Segurança pública entra na alça da campanha de 2026
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Nem precisa ser sociólogo ou marqueteiro político para saber que o tema prevalente das campanhas eleitorais de 2026, tanto no âmbito estadual quanto no nacional, será a violência e o combate à bandidagem.
Programas sociais, como o Bolsa Família, que sustentou popularmente os governos do PT, ou o “pacote de bondades” improvisado no fim do governo Jair Bolsonaro, em 2022, já não têm a mesma repercussão no voto. Só em 2025, mais de 2 milhões de famílias tiveram aumento de renda e deixaram o Bolsa Família. É o maior resultado do programa desde o seu lançamento, lá atrás, no primeiro governo Lula.
O aumento de renda de um contingente de cerca de oito milhões de pessoas que mudaram de vida significa muito nas políticas públicas. É motivo de sobra para qualquer governo celebrar. Porém, os beneficiários, normalmente, preferem creditar a si mesmos, e não ao governo, o esforço para melhorar de vida com emprego formal ou outro meio de sair da miséria.
Na hora do voto, no entanto, o Bolsa Família não terá o mesmo impacto que já teve. A pressão política sobre esse segmento é enorme, principalmente nas ferramentas digitais e nas redes sociais. A redução da pobreza, com geração de emprego e renda e melhoria da educação, nem sempre é reconhecida como ação social do governo.
O que todo mundo quer é combate ao crime organizado. Não é à toa que a matança de 117 apontados como “soldados” do CV, pelo governo Cláudio Castro, tem amplo apoio da população fluminense. Se a reeleição fosse agora, ele teria chances reais de vencer.
Ninguém questiona hoje como o PCC, em São Paulo, e o Comando Vermelho, no Rio, se expandiram, se estruturaram e se infiltraram em inúmeras atividades econômicas ilícitas e lícitas, que nada têm a ver com o tráfico de drogas ou com a ação de milícias. São tantas as frentes em que o crime organizado opera que os governos estaduais e federal as têm mapeadas, mas as ações de combate e ocupação dos territórios dominados, vergonhosamente, fracassam.
A guerra travada no Rio de Janeiro entre a polícia estadual e o Comando Vermelho repercutiu no mundo, mas até hoje os governantes não se entendem sobre como desmantelar as facções. Afinal, elas atuam no tráfico de armas, de pessoas, prostituição, contrabando e falsificação de cigarros, bebidas e fuzis; em crimes cibernéticos; na mineração e comercialização ilegal de ouro; em homicídios e assaltos; no roubo de cargas e veículos; na infiltração em setores lícitos (para lavagem de dinheiro do lucro); no investimento imobiliário; no transporte público (vans e mototáxis); no comércio de combustíveis; em apostas online e criptoativos; e em empresas de fachada nos ramos de motéis, brinquedos, fertilizantes e licitações públicas.
Além de as organizações atuarem como “franquias do crime”, o mais sério é a infiltração na política. Há muita briga dentro do Congresso Nacional sobre matérias de combate à bandidagem e até na relação com o Supremo Tribunal Federal — exemplo disso foi a ordem de 2020 do ministro Edson Fachin, na ADPF 635. Ele proibiu operações nas favelas durante a pandemia e determinou que fossem precedidas de comunicação ao MP-RJ.
A decisão é, até hoje, criticada por parlamentares e governadores de direita. Os bolsonaristas de sete estados criaram um “Consórcio da Paz” para combater o crime organizado, mas deixaram os demais estados de fora, como se as facções não estivessem atuando em toda a federação brasileira.
Depois da “Operação Contenção”, que deixou 121 mortos, as autoridades só falam no Comando Vermelho e se esquecem de que um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais (do Ministério da Justiça), de 2024, apontou a existência de 88 facções no país. Portanto, “combatê-las” em palanque político, com foco nas eleições de 2026, só as fortalece, dada a interligação dentro e fora do Brasil, sua superestrutura e o planejamento estratégico de seu modus operandi.
As marcas das “franquias” PCC e CV não estão operando somente nas favelas do Rio, em guerra entre si e contra as milícias, mas também no sistema financeiro da Faria Lima, em São Paulo, dentro da legalidade. Os chefões têm a estratégia de agir no chafurdo político.

