20 de dezembro de 2025
Geral

Efeito sanfona atinge PL em um ano atípico

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Nascido na esteira da redemocratização do Brasil, em 1985, o Partido Liberal, originário da ideia de um grupo político liderado por Álvaro Vale, chegou a 2022 como a sigla que mais elegeu deputados na Câmara. Paradoxalmente, em três anos, após a derrota presidencial de 2022 com Jair Bolsonaro, é a legenda que mais perdeu deputados.

Na última quinta-feira, 18/12, o presidente da Câmara, Hugo Motta (PP), cassou o mandato dos deputados Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, na mesma semana em que a deputada Carla Zambelli foi salva da cassação no plenário, mas teve de renunciar diante da ordem do STF de dar por extinto o seu mandato. Todo esse quarteto é do PL.

Nesta sexta, 19, foi a vez de a Polícia Federal, por ordem do ministro do STF Flávio Dino, bater na porta do líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, e de Carlos Jordy, ambos do PL. A PGR os acusa de desvio de recursos públicos oriundos de cotas parlamentares.

Na casa do líder do partido bolsonarista, a PF encontrou a bolada de R$ 430 mil em espécie. Segundo as investigações, agentes políticos, servidores comissionados e particulares teriam atuado, coordenadamente, para o desvio e a posterior ocultação de verba pública. Há um ano, a PGR havia pedido a operação, mas Dino negou, por falta de convicção sobre o inquérito, agora desdobrado com novos elementos probatórios.

O PL nasceu com a visão liberal de centro, defendendo a liberdade e reformas econômicas, mas evoluiu para a direita e virou abrigo até da extrema-direita, como, por exemplo, a família Bolsonaro, alinhado à bancada evangélica. Em 2022, o PL elegeu 99 deputados.

Entretanto, no terceiro ano de mandato, o partido acumula poucos ganhos e perdas expressivas. Reduziu o tamanho da bancada a ponto de chegar a agosto de 2025 com 91 deputados federais e agora acaba de perder mais três: Eduardo, Ramagem e Zambelli. Em números absolutos, o PL sofreu forte desidratação: perdeu 13 e ganhou dois; dois cassados, uma renúncia, três migraram para o Republicanos, dois para o PP e um para o MDB. Ganhou apenas dois.

Com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro e, depois, a sua prisão em Brasília, o PL virou foco de tensão dentro da família do ex-capitão e no núcleo do conservadorismo de direita, que atua no Centrão e no bolsonarismo em qualquer lugar.

Na semana passada, Bolsonaro lançou o filho 01, senador Eduardo Bolsonaro, como candidato presidencial em 2026. De certo modo, acalmou os ânimos exaltados de sua esposa Michelle e dos irmãos Eduardo e Carlos. Porém, a confusão atravessou a sala de estar e foi esbarrar nos partidos do Centrão, com quatro governadores pré-candidatos ao Planalto em 2026.

A Operação Galho Fraco, desencadeada ontem pela PF contra o líder do PL e seu colega de partido Carlos Jordy, sem dúvida foi uma bordoada de estontear. Ocorreu apenas 24 horas após outra operação nas residências do senador Weverton Rocha, líder do PDT no Senado e vice-líder do governo Lula.

Trata-se, portanto, de um 2025 de arrepiar, subentendido como o fechamento de balanço de um ano sem eleição, mas politicamente tão atípico quanto foi a transição 2022/2023. Os sete mandados de busca desta sexta-feira focaram na atuação de agentes políticos, servidores comissionados e particulares que atuaram, de forma coordenada, para o desvio e a ocultação de verbas públicas.

O desdobramento dessas operações, com as votações no Congresso e as perdas de mandatos parlamentares, certamente terá reflexos nas urnas de 2026. O eleitor de hoje, ao contrário do tempo do “nhô sim, sim senhor”, é mais bem informado.

O celular é a poderosa máquina de destruir mitos, desmontar narrativas e levar a política a outro nível de compreensão. O Congresso jogou duro contra o STF e a PF pelas suas ações. O deputado Guilherme Derrite (PP-SP) tentou limitar a PF, no projeto antifacção, a investigações de crimes urbanos e, ainda assim, mediante autorização de governadores. Era só o que faltava.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *