Os paradoxos ideológicos das eleições no Maranhão
Por Raimundo Borges

O Imparcial – O ano de 2025 está escapulindo, e o eleitoral de 2026 chegando daqui a pouco, carregado de expectativas e paradoxos. Por enquanto, as eleições são o assunto mais palpitante nas redes sociais, mídias de todos os formatos, pesquisas e análises dos especialistas de plantão. No Maranhão, a disputa pelo Palácio dos Leões está na boca do eleitor, nas ações dos políticos e também nas operações das polícias Federal e estadual atrás de gestores e parlamentares que malversam dinheiro de emendas, da saúde, da educação e do próprio orçamento. Dezenas dessas figuras receberam visitação dos agentes da lei que, buscando provas, acharam também somas milionárias em dinheiro vivo, escondido até em vaso sanitário.
Olhando a eleição de governador pelo espectro ideológico, não é possível identificar onde fica o muro que separa a direita bolsonarista da esquerda lulista. Uma névoa carregada de interesses conflitantes tapa a tal fronteira entre os dois principais pretendentes à cadeira de Carlos Brandão. O prefeito de São Luís, Eduardo Braide, tem perfil de centro-direita, mas pode fazer uma curva à esquerda e, lá na frente, se juntar ao vice-governador do PT, Felipe Camarão. O secretário estadual de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão, é de família do agro que pisou no terreno da esquerda entre 2014 e 2022, quando Carlos Brandão, no PSDB, bateu a chapa com o “comunista” Flávio Dino, do PCdoB e depois PSB.
Não é difícil entender o porquê da indefinição ideológica do Maranhão. A pobreza interfere diretamente no voto da população mais dependente dos programas sociais do governo, como a Bolsa Família (federal) e a imensa rede estadual de mais de 200 restaurantes populares, ao preço de R$ 1 a refeição e de R$ 0,50 o café da manhã. Frases como “a fome não tem partido, mas tem voto” calham nessa realidade política. Ideologia passa longe da grande maioria de uma população que, ao longo dos séculos, não conseguiu dar alforria à barriga. Pensar em voto por convicção ideológica nesse universo conectado a programas de transferência de renda como meio de sobrevivência é perda de tempo.
Na opinião de Marcos Silva, sociólogo, geógrafo, historiador e mestre em Desenvolvimento Socioespacial da Uema, em artigo no portal Imirante, a origem da escancarada desigualdade econômica do Maranhão “reside na sua própria formação histórica, profundamente impactada pelo modelo escravocrata e agroexportador implantado desde o período colonial. A estrutura fundiária concentrada — herança do latifúndio — moldou um padrão de desenvolvimento que é socialmente desigual e territorialmente excludente. A abolição da escravidão ocorreu sem reparações ou inclusão efetiva, deixando amplas camadas da população negra, pobre e rural à margem da economia”.
Já o festival de pesquisas eleitorais com jeito de manipuladas, em 2025, acaba no dia primeiro de janeiro de 2026, por força da lei. Ficarão sob vigilância do TSE, dos partidos e de qualquer cidadão. Nenhuma dessas pesquisas arriscou perguntar ao eleitor se ele vota por ideologia. E nem faz mesmo sentido tal indagação. Afinal, Braide foi reeleito com 70,3% dos votos em 2024; Orleans Brandão (MDB) surgiu na política em 2025, incentivado pelo pai, Marcus Brandão, empresário do agro, e o tio, governador. Lahesio Bonfim já pulou de galho em galho por 11 partidos, inclusive o PT, sua estreia na política. Hoje é direita no Novo.
Em 2022, Flávio Dino saía de um governo estadual que, por três anos, trombou diretamente com o presidente Jair Bolsonaro, de extrema-direita. Foi eleito senador com 2,125 milhões de votos. O PCdoB, que o abrigou de 2006 a 2021, no ano seguinte não passou de um deputado federal, Márcio Jerry. Já o PL bolsonarista, de Josimar de Maranhãozinho, repudiado por Jair Bolsonaro, elegeu quatro deputados federais, inclusive Detinha, mulher de Josimar, como campeã de votos. Tais fatos provam que o voto no Maranhão não segue cartilha ideológica de direita ou de esquerda. Subordina-se mais ao dinheiro público do que aos discursos de marqueteiros.
