Sacudida nos ciclos da política do Maranhão
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Desde a proclamação da República em 1889 que, nesta sexta 15/11 completou 136 anos, a política do Maranhão é movida por uma força motriz que até hoje se faz presente no poder estadual. Opera em ciclos que, de em tempo precisa fazer uma parada para reabastecer as energias.
Quando o marechal Deodoro da Fonseca deu o golpe na realeza de D. Pedro II, o Maranhão já tinha na região sertaneja de Barra do Corda, Carolina, Pastos Bons e Grajaú clubes republicanos com jornais e outros meios de difundir novas as ideias, lideradas por Isaac Martins, um juiz municipal em posto avançado. Os episódio inédito do desempate na reeleição de presidente da Assembleia Legislativa na última 4ª feira, 12, foi a sinalização de que, o reabastecimento das forças políticas está acontecendo quando necessário.
Assim como os políticos conservadores leais à Coroa Portuguesa só aderiram ao novo regime naquele final de século XIX, hoje seus sucessores da era das redes sociais, só esperam o momento certo de reabastecimento no posto do poder. Afinal, naquela circunstância, os que aderiram à República com atraso foram os que, de fato, tomara conta do poder no Maranhão.
No século XX, a política estadual viveu os ciclos do vitorinismo comandado pelo senador Vitorino Freire; o Sarneísmo de José Sarney, que sepultou o ciclo de 20 anos anteriores e construiu o novo ciclo que durou meio século, com expansão até no Palácio do Planalto.
A partir de 2014, o Maranhão viveu outra história. O ex-juiz e ex-deputado Flávio Dino é eleito governador pelo PCdoB, derrotando o último representante do sarneísmo numa eleição, Edson Lobão Filho, com Roseana Sarney no Palácio dos Leões. Porém, as raízes do sarneísmo ficaram fofando o terreno, na expectativa de que Dino não demoraria mais de um mandato no poder.
Ele, porém, ficou até 2022, quando foi eleito senador com a maior votação na história do Maranhão. Nomeado ministro do STF, ele deixou o comando da política do Estado ao vice Carlos Brandão, também eleito governador em 2022. Assim como ocorreu no pós-sarneísmo, o pós-dinismo viu surgir a semente do brandonismo brotando aqui e acolá.
A Assembleia Legislativa eleita em 2022 viu em Carlos Brandão a única figura capaz de iniciar o novo ciclo político. A deputada Iracema Vale, campeã de votos na Alema, havia trocado o PT pelo PSB ainda na gestão de Flávio Dino no governo, foi eleita a primeira mulher presidente da Assembleia Legislativa em 188 anos.
Foi o parlamento estadual que ficou em segundo lugar em representação feminina no país, com 12 das 42 cadeiras no Plenário. Com Iracema no comando, Brandão teve todas as facilidades de governar, com uma oposição de apenas quatro e cinco deputados. Iracema foi eleita em 2023 por unanimidade, o que fez ela apressar a reeleição já em junho daquele ano, em nova unanimidade.
No entanto, a pedido do Partido Solidariedade, a PGR recorreu ao STF com pedido de anulação da eleição antecipada em um ano e meio. O ministro Luiz Fux mandou a Alema anular a eleição e realizar outra. O regimento da Casa foi alterado e o voto passou a ser secreto.
O que parecia ser uma reeleição tranquilíssima acabou no empate de 21 x 21, com o deputado Othelino Neto (SD) concorrendo pela oposição. No segundo turno, o placar foi repetido e a presidente foi proclamada reeleita pelo critério de desempate na idade. Ela com 56 e Othelino, 49. No Palácio dos Leões, a repercussão mereceu o silêncio de Carlos Brandão e uma explosão de análises nas redes sociais e nos meios políticos.
Com Othelino liderando a oposição na Alema, não se sabe se aqueles cinco deputados de até 4ª feira, todos ligados ao dinismo se transformaram, de fato, nos 21 do empate, ou não. Seja como for, a votação rachada ao meio foi creditada à remota ação de bastidores de Flávio Dino. Hoje, ele e Brandão estão longe de serem os mesmos que já foram na política do Maranhão.
As eleições de 2026 poderão ser ou não um ponto fora da curva no ciclo pós-dinista, com o brandonismo revigorado. Só então se saberá se o governador conseguiu construir o novo ciclo da política maranhense, ou se as raízes do dinismo permanecerão tentando brotar ramos aqui e acolá, como aconteceu no fim do período sarneísta há 14 anos.