‘Foi muito grosseiro’: o que ucranianos acharam de conflito entre Trump e Zelensky
BBC – Independentemente de o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ter sido vítima de uma emboscada — ou se deveria ter sido mais diplomático no Salão Oval — a reunião de sexta-feira (28/2) foi desastrosa para a Ucrânia.
Para aqueles que assistiam o desenrolar dos fatos a partir da capital Kiev, o futuro do país estava em jogo.
“Foi uma conversa com fortes emoções, mas eu entendo nosso presidente”, conta Yulia, ao lado da catedral de Santa Sofia.
“Talvez ele não tenha sido diplomático, mas foi sincero. É sobre a vida, e nós queremos viver.”
Yulia reflete um comportamento político padrão na Ucrânia: quanto mais o país é atacado, mais unidade é forjada.
Antes da invasão em larga escala iniciada em 2022, o índice de aprovação do presidente Zelensky estava em 37%. Depois, esse número disparou para 90%.
Antes de Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos no início de 2025, essa porcentagem havia caído para 52%.
Depois que ele culpou a Ucrânia pelo começo da guerra, a aprovação de Zelensky voltou a subir para 65%.
“Eles [Donald Trump e o vice-presidente americano JD Vance] foram muito grosseiros”, avalia Andriy, de 30 anos.
“Eles não respeitam o povo da Ucrânia”, complementou ele.
“Parece que Washington apoia a Rússia”, observou Dmytro, de 26 anos.
A pergunta agora é como as últimas 24 horas afetarão a popularidade do presidente Zelensky.
“Quando a situação piora, temos outra união em torno da bandeira ucraniana”, explica Volodymyr Paniotto, diretor do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, que conduziu algumas das pesquisas de popularidade citadas anteriormente.
A popularidade dos líderes mundiais geralmente diminui com o tempo, e Paniotto entende que Zelensky não passou imune por esse fenômeno.
As avaliações do trabalho dele foram especialmente afetadas pela contraofensiva fracassada da Ucrânia em 2023 e demissão, cerca de um ano depois, do popular comandante-chefe das forças armadas ucranianas, Valeriy Zaluzhnyi.
Mas a nova abordagem frequentemente hostil de Donald Trump sobre a Ucrânia forçou o país a se unir novamente e se preparar para uma nova onda de incertezas.
‘Somos punidos por sermos atacados’
Após o bate-boca na Casa Branca, “a reação inicial foi de choque”, destaca Inna Sovsun, parlamentar da oposição.
“Foi difícil assistir a um presidente que foi vítima de agressão russa ser atacado pelo líder do mundo livre”, acrescenta ela.
“É doloroso”, admite Sovsun.
Os canais de TV ucranianos relataram as cenas de sexta-feira de uma forma mais comedida: a notícia principal era que um acordo sobre minerais entre a Ucrânia e os EUA simplesmente não foi assinado.
Talvez, diante do fato de que esse acordo não abordava as garantias de segurança americanas que Kiev e a Europa desejam desesperadamente, ele não tenha parecido tão tentador para Zelensky.
“Precisamos encontrar aliados mais fortes na Europa e em Canadá, Austrália e Japão, que têm nos apoiado”, argumenta Sovsun.
Há claramente sentimentos profundos de ressentimento entre Washington e Kiev.
No entanto, Sovsun não acha que a Ucrânia deva desistir das negociações com os americanos, mas, sim, reformular o debate.
“É importante encontrar o mediador certo”, sugere ela.
“Alguém que Trump possa reconhecer, mas alguém em quem também confiamos. Alguém como a [primeira-ministra] Georgia Meloni, da Itália.”
“Sob nenhuma circunstância devemos concordar com pedidos para que o presidente renuncie, e digo isso como uma parlamentar da oposição. Isso desafia a própria ideia de democracia”, defende a parlamentar.

O presidente Zelensky esperava que a visita a Washington desse início a uma cooperação mais profunda com os EUA — o que poderia, por sua vez, trazer uma paz duradoura.
Isso é algo que Sovsun acredita que ninguém deseja mais do que os próprios ucranianos.
“Nós somos aqueles que estão sofrendo, e é extremamente difícil viver sob esse estresse”, acrescenta ela.
“Esta manhã, li que o filho do meu amigo foi morto. É o segundo filho que ele perde nesta guerra.”
O que a parlamentar e inúmeros ucranianos não querem é um acordo apressado.
Tentativas de cessar-fogo com a Rússia em 2014 e 2015 só permitiram que Moscou se preparasse para uma invasão em larga escala anos depois.
‘Sabíamos que seria difícil, mas não tanto assim’

A deputada ucraniana Ivanna Klympush-Tsyntsadze antecipou que uma segunda presidência de Trump seria menos simpática à causa da Ucrânia, mas não a esse ponto.
“Este acordo sobre os minerais não obriga os EUA a nos ajudarem militarmente, ou a aumentar ou continuar o apoio que dá atualmente”, aponta ela.
Embora ainda exista uma homogeneidade parlamentar por trás do presidente Zelensky e um acordo por suspender as eleições, parlamentares como Klympush-Tsyntsadze querem ter mais envolvimento nas negociações.
O líder do partido que ela representa, o Solidariedade Europeia, é o ex-presidente Petro Poroshenko, um rival feroz de Zelensky.
Recentemente, Poroshenko foi rotulado pelo serviço de segurança da Ucrânia como uma “ameaça à segurança nacional” e acusado de criar “obstáculos ao desenvolvimento econômico” do país.
O ex-presidente disse que a decisão foi “motivada politicamente”.
Apesar disso, Poroshenko diz que reconhece a legitimidade de Zelensky como líder, apesar das alegações americanas e russas apontarem para o caminho oposto.
‘Isto é apenas barulho internacional’

Enquanto sirenes tocam e mísseis atingem cidades, esta é uma guerra em andamento, apesar de toda a conversa sobre acabar com ela.
A Rússia não recuou em suas demandas pela capitulação política da Ucrânia e o controle completo de quatro regiões do país.
“Esta guerra não é por alguma área, cidade ou linha de árvores no leste”, lembra Taras Chmut, chefe da fundação Come Back Alive, uma entidade filantrópica que dá apoio às forças militares da Ucrânia.
Depois que a Rússia invadiu a Crimeia em 2014, essa organização foi criada para obter equipamentos militares para reforçar as tropas ucranianas.
“Esta é a guerra que definirá a ordem mundial nas próximas décadas. Se este mundo ainda existirá depende de como este conflito evoluir”, acredita Chmut.
Enquanto persegue implacavelmente a política da “América em Primeiro Lugar”, Trump quer que a Europa forneça segurança numa região onde ele está menos disposto a fazê-lo.
Mas a Europa está dividida sobre o assunto. A única unanimidade é sobre a ideia de que uma paz não é possível sem os EUA.
“A Europa e o mundo mais uma vez querem fechar os olhos e acreditar em um milagre. Mas milagres não acontecem”, diz Chmut.
“Os países devem aceitar a realidade da situação e fazer algo a respeito. Caso contrário, eles serão os próximos a desaparecer, depois da Ucrânia”, alerta ele.
A Europa precisa se unir diante da posição em lutar pela paz, pois se seguirem dessa forma irão dar força cada vez mais para a Rússia, q com certeza irá dominar cada vez mais os países da Europa, eliminando um por vez! Acorda Europa!! Tomem decisões mais altruístas, talvez até consigam maior apoio dos demais países e aí até Estados Unidos repense sua posição