Quatro favoritos e nenhuma definição sobre 2026 no MA
Por Raimundo Borges
O Imparcial – A família imperial brasileira, representada na figura de D. Pedro II, foi destronada em 1889 no golpe militar comandado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Ele deu o golpe, pôs fim ao regime monárquico e proclamou a República. No entanto, o poder político que substituiu a monarquia já se alternou várias vezes entre ditadura e democracia. Logo, a tradição de transferir o poder político baseada no sobrenome familiar do reinado até hoje resiste ao tempo e continua fazendo história em praticamente todas as regiões ou estados. No Maranhão, tal modelo familiar se arrasta desde quando José Sarney transferiu essa aura de poder a parentes, como a filha Roseana, e a aliados próximos.
Atualmente, o sobrenome Brandão alcançou enorme repercussão política, acima da média de outros que despacharam no Palácio dos Leões, embora bem distante do ex-presidente José Sarney. Sob as ordens do governador do Estado, há uma engrenagem política operando a todo vapor para deixar em sua cadeira Orleans Brandão (MDB), um jovem estreante na política, a quem o tio Carlos Brandão quer transferir a faixa símbolo do poder maranhense em 1º de janeiro de 2027. Assim, o sobrenome Brandão está também na Presidência do Tribunal de Contas do Estado (Daniel Itapary Brandão), na Alema (Davi Brandão) e em Paço do Lumiar (Mariana Brandão, vice-prefeita).
Estudos acadêmicos indicam que a tradição familiar na política não é um fenômeno brasileiro ou maranhense. É mundial. Ela carrega um peso significativo em qualquer formato de poder político. Roseana Sarney, além de ter sido a primeira governadora do Brasil, foi também a única mulher a ascender quatro vezes ao cargo, todas pela via eleitoral, e ainda hoje é deputada federal. O sobrenome Sarney tornou-se espécie de símbolo do poder também fora do Maranhão — bem diferente da oligarquia de Vitorino Freire, que Sarney derrubou em 1965 ao se eleger governador. Vitorino, porém, não deixou raízes na estrutura de poder.
Esse capital político familiar tem sido cultivado pelo país afora, com maior incidência no Pará, com os Barbalho; na Bahia, com os Magalhães; em Pernambuco, com os Arraes e agora com os Campos; e em Alagoas, com os Calheiros. Trata-se de um fenômeno político amplamente aceito pela população – mais pela tradição de poder familiar e menos pelo aspecto ideológico. Os Sarney transitaram pelo centro do poder tanto na ditadura de 1964 quanto na democracia, que José Sarney avalizou na transição da ditadura, que levou à Constituição de 1988. No ambiente da construção de carreiras políticas familiares, a influência se manifesta de diversas formas, desde a facilitação do acesso ao poder até a solidez da imagem pública associada aos resultados familiares no histórico político recente.
O governador Carlos Brandão não disse ainda qual decisão vai tomar até abril de 2026 sobre o seu futuro. Ele ganha tempo, vendo o entorno mergulhado em especulações de toda ordem, e incentiva o sobrinho Orleans Brandão a ocupar espaços políticos, expondo-se como pré-candidato a governador. Ele sabe que o poder da máquina sob seu comando é imenso, num ambiente em que o Estado é provedor de tudo. As pesquisas já respondem a essa realidade. Em fevereiro, o prefeito Eduardo Braide aparecia com 32,7% das intenções de voto; Lahesio Bonfim, 24,9%; Orleans Brandão, 16,9%; e Felipe Camarão, 12,9%. Há dois dias, Eduardo Braide estava com 36,24%; Orleans Brandão, 23,26%; Lahesio Bonfim, 18,25%; e o vice-governador Felipe Camarão, 10,98%. Dos quatro, só Lahesio se declara candidato.
Quem quiser saber quem é o favorito na disputa pelo governo em 2026, a resposta é simples: não existe, mas todos se movimentam para ser. Dos quatro que despontam nas pesquisas, o único que não mudou de posição como líder distante é o prefeito Eduardo Braide, mas sem arriscar assumir a pré-candidatura. No quesito parentesco, ele só conta com o deputado estadual Fernando Braide e um histórico distante do pai, Carlos Braide, presidente da Assembleia Legislativa entre 1991-92. Por isso, vale repetir a frase do técnico do Botafogo, Renato Paiva, adaptada à política: “O cemitério do futebol está cheio de favoritos” – sobre o suposto favoritismo do PSG na Copa do Mundo de Clubes.