30 de julho de 2025
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Brandão e Dino ainda não tocaram fogo nas pontes

Por Raimundo Borges

O Imparcial – A relação entre o governador Carlos Brandão (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino permanece como fogo de monturo, bem distante da imagem metafórica da canção “Labareda”, de Vinícius de Moraes.

Desde 2015, os dois conviveram harmoniosamente por oito anos no governo do Maranhão e, até hoje, jamais abriram a boca para pronunciar algo que destratasse um ao outro. Portanto, o fogo de monturo ainda não levantou labareda. Muito menos apareceu algum bombeiro disposto a despejar um jato d’água e impedir o incêndio de vir à tona, ou jogar gasolina e fazer o principal grupo político do Maranhão acabar em cinzas. Talvez por isso, as pontes da união política permanecem de pé.

A história política, rica em períodos oligárquicos, tem mostrado que não é fácil bombardear o grupo do poder e construir outro nos escombros. José Sarney detonou, em 1965, o vitorinismo oriundo da ditadura Vargas, adotando propostas moralizadoras e modernizantes que, porém, atendiam ao gosto da novíssima ditadura militar de 1964, interessada em barrar dos cenários políticos estaduais certos “coronéis” de patentes compradas.

Soma-se a esses fatos as dissidências internas do vitorinismo. Não foi difícil, portanto, Sarney montar a base de sua própria oligarquia dentro do regime militar de dois partidos que, ironicamente, acabou sendo derrubado por ele, na aliança com Tancredo Neves em 1985.

No caso presente, o Maranhão vive um raro período sem oligarquia. Flávio Dino foi um político moderno, idealista, de esquerda, inteligente, mas sem qualquer traço oligárquico. Deixou o grupo que construiu em 2014 intacto, em 2022, para o vice reeleito Carlos Brandão, de postura centro-direita, mas cuidadoso ao lidar com a esquerda maranhense.

Em fevereiro de 2024, Brandão participou da posse de Flávio Dino no STF, colocado na solenidade ao lado do companheiro da jornada política mais importante do Maranhão em um século. Hoje, como é normal na dinâmica política, o fogo de monturo levanta muita fumaça na relação Dino-Brandão, mas nada que um habilidoso bombeiro não apague.

Flávio Dino trocou a política pela magistratura máxima do Brasil, mas não passou uma esponja na influência que o tornou a maior liderança estadual depois de José Sarney em seus tempos áureos.

Se Dino e Sarney, que tiveram o maior confronto político do Maranhão em todos os tempos, hoje vivem se admirando e se respeitando na Academia de Letras e em momentos de relevância política, por que não com Carlos Brandão, um político experiente e lutador pelas mesmas boas conquistas para o Maranhão? O tempo, bajulado pelos filósofos como “o senhor da razão”, pode permitir que as vontades momentâneas nem sempre deixem marcas na história de um povo ou de governantes dominados por danação extemporânea.

O Maranhão vive um período de inegáveis avanços econômicos, com o seu Poder Legislativo colaborando, o Judiciário sem atrito, o setor produtivo respondendo em todas as áreas e o governo tocando suas ações de mãos dadas com os municípios. A exceção está na relação com São Luís.

O mandatário Eduardo Braide está com a aprovação nas alturas, o que o coloca como líder das pesquisas para o governo estadual em 2026. Logo, aparece com chance de, mais cedo ou mais tarde, atrair para seu lado sobras do petismo local, do dinismo de ocasião e do bolsonarismo desgarrado no Maranhão.

Por coincidência, o secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão, sobrinho do governador e colocado como pré-candidato ao Palácio dos Leões, disse esta semana que, no momento certo, o tio “pode sim conversar com o vice-governador Felipe Camarão”, outro que também trabalha intensamente como pré-candidato aos Leões, apoiado pelo presidente Lula e a cúpula do PT.

Como se pode perceber, a ponderação é um fator que permeia as decisões políticas praticadas sem afobação e medidas pela escala da razão. Logo, o diálogo é a principal ferramenta na construção de pontes políticas. A estas alturas, portanto, o Maranhão não permitirá o estrangulamento do processo de governança que tem dado respostas positivas para tirá-lo da condição vergonhosa de um dos Estados mais pobres do Brasil.

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