Crise política do MA escalada para o STF
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Desde que José Sarney assumiu o comando da política maranhense em 1965, ao ser eleito governador, o Maranhão nunca havia enfrentado uma crise política interna dentro do mesmo grupo como a que ocorre atualmente no segmento que derrubou o sarneísmo em 2014, sob a liderança de Flávio Dino.
Durante o período sarneísta, passaram-se vários governadores, ministros de Estado e até mesmo a Presidência da República, exercida por Sarney, mas o controle político permaneceu em seu grupo, apesar de algumas dissidências pontuais. Em nenhum momento, contudo, ocorreram rupturas que ameaçassem a hegemonia política ou a liderança do ex-presidente Sarney, nem mesmo quando Jackson Lago foi eleito governador em 2006 – mandato interrompido em 2009, após sua cassação.
Em 2014, entretanto, Dino levou para o tronco “comunista” do PCdoB a maior parte do sarneísmo, tradicionalmente distante do ideário da esquerda. Tratava-se do chamado Centrão maranhense, liderado pelo MDB, que migrou para o lado vencedor. Agora, a crise política que emergiu dentro do grupo dinista-brandonista representa o ápice da fragmentação do antigo sarneísmo, reunido em 16 partidos que se alinharam em três eleições gerais consecutivas.
Com a proximidade de 2026 e o ex-líder ocupando assento no STF, a crise se consolidou. Pesquisas sem registro na Justiça Eleitoral tornam ainda mais nebuloso o cenário da disputa pelo governo, ora apontando Eduardo Braide (PSD) com larga vantagem, ora em empate técnico com o secretário Orleans Brandão (MDB).
A crise, que já envolve a nomeação no Tribunal de Contas do Estado (TCE), alcança a eleição da mesa diretora da Assembleia Legislativa, atinge o Poder Executivo e desembarca no STF, de onde partiu ordem do ministro Alexandre de Moraes determinando o afastamento do procurador-geral do Estado, Valdênio Nogueira Caminha. Além disso, ele foi proibido de assumir outro cargo nas três esferas de governo.
A acusação é de descumprimento de decisão anterior do STF sobre afastamento de funcionários supostamente beneficiados por nepotismo. Assim, a crise política do Maranhão transita no Supremo sob a condução dos ministros Flávio Dino, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
Em junho, Fux decidiu retirar do julgamento virtual um processo do partido Solidariedade referente à inédita eleição da Assembleia Legislativa em fevereiro deste ano, que terminou empatada por duas vezes em 21 a 21. O julgamento estava 8 a 0 a favor de Iracema Vale contra Othelino Neto, mas foi transferido, de forma inesperada, para o plenário presencial, ainda sem previsão de pauta.
Paralelamente, opositores acusam Brandão de descumprir um suposto acordo firmado em 2022, segundo o qual ele deveria renunciar em abril, disputar o Senado e deixar o vice, Felipe Camarão, assumir o governo e concorrer em 2026. Brandão e seus aliados negam a existência do acordo e acusam o ministro de usar sua posição no Supremo para interferir na política maranhense por meio dos processos que tramitam na Corte.
A crise política avança em todas as frentes. A OAB-MA manifestou preocupação com o afastamento do procurador Valdênio Caminha, determinado por Alexandre de Moraes, classificando a medida como um grave risco ao livre exercício da advocacia. Informou ainda que levará o caso ao Conselho Federal da OAB, sem descartar providências de caráter processual junto ao Conselho Nacional de Justiça.
Enquanto os atores políticos travam embates e as acusações se multiplicam, o prefeito Eduardo Braide mantém silêncio sobre a disputa de 2026. Mesmo sem declarar oficialmente sua candidatura, lidera as pesquisas eleitorais e não demonstra intenção de se reaproximar do grupo dinista, do qual se distanciou há anos.
Outra questão em aberto diz respeito à filiação partidária do governador Brandão e de seu grupo, ainda vinculados ao PSB, presidido no Maranhão pela senadora Ana Paula, esposa do deputado Othelino Neto. Brandão pode migrar para o MDB, presidido no estado por seu irmão, Marcus Brandão, pai do pré-candidato Orleans Brandão.
A sucessão estadual, portanto, transformou-se em uma confusão sem precedentes na história recente. Governistas e opositores eleitos pela mesma coligação em 2022 hoje se enfrentam como inimigos ferrenhos. Enquanto isso, Eduardo Braide, alheio ao grupo dinista-brandonista, assiste de camarote ao conflito que conduzirá todos às urnas de 2026.