Voto em senador é casado, mas o resultado é solteiro
Por Raimundo Borges
O Imparcial – As recentes pesquisas eleitorais realizadas no Maranhão, ainda sem controle da Justiça Eleitoral, mostram que a disputa pelas duas vagas de senador não foge à realidade histórica. Em 2026, dois terços dos 81 senadores chegarão ao fim do mandato. Portanto, no dia 4 de outubro do próximo ano serão eleitos 54 senadores.
Dos sete nomes que aparecem como pré-candidatos ao Senado, a maioria sabe que a disputa está longe de se resumir a uma vontade pessoal ou partidária; ela é, na verdade, fortemente influenciada pela liderança do candidato a governador com potencial de vitória. Mais ainda: a história mostra que o “voto casado” para senador é real no Maranhão, mas a convivência entre os eleitos nem sempre se confirma.
Os pré-candidatos que pontuam nas pesquisas são: Weverton Rocha (PDT), André Fufuca (PP), Eliziane Gama (PSD), Pedro Lucas (UB), Yglésio Moyses, Roberto Rocha (sem partido), César Pires (Novo) e Hilton Gonçalo (Mobiliza). Historicamente, os partidos políticos brasileiros desfrutam de má reputação, sobrevivendo como empresas privadas abastecidas por fabulosas somas de dinheiro público.
Nas eleições de 2026, o mapa partidário em relação a 2022 estará profundamente alterado por fusões e federações. União Brasil e PP, por exemplo, acabam de formar a federação União Progressista, resultando na maior bancada do Congresso, com mais de 1,3 mil prefeitos, a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral e, consequentemente, maior poder de influência sobre o próximo presidente da República.
Desde a primeira eleição geral do século XXI, em 2002, a única vez em que a chapa vencedora do governo não conquistou a vaga de senador foi em 2006, quando Jackson Lago (PDT) derrotou Roseana Sarney (PFL), mas ela conseguiu eleger Epitácio Cafeteira (PTB), conhecido por sua força eleitoral.
Em 2002, José Reinaldo foi eleito governador ao lado dos senadores Roseana Sarney e Edison Lobão, todos do PFL. Em 2010, Roseana Sarney, já no PMDB, venceu Jackson Lago (PDT) e Flávio Dino (PCdoB) e colocou no Senado Edison Lobão (reeleito) e João Alberto, ambos ligados ao grupo Sarney. Curiosamente, tanto Lobão quanto Alberto obtiveram mais votos que a própria governadora.
Nas eleições seguintes – 2014, 2018 e 2022 – o atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, elegeu todos os senadores. Em 2014, na reta final da campanha, decidiu apoiar Roberto Rocha (PTB), deixando de lado o favorito Gastão Vieira, considerado “eleito” em todas as pesquisas. Em 2018, ainda no PCdoB, Flávio Dino foi reeleito e levou ao Senado os aliados Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS). Portanto, a eleição para senador pode até ter voto “casado”, mas o sistema de atuação é “moderno”: cada um por si.
Quando as pesquisas incluem nomes sem qualquer chance de vitória ao Senado, trata-se apenas de sondagens com segundas intenções. A eleição majoritária em um estado como o Maranhão, onde o governo é o maior empregador direto e indireto e também o maior contratante, torna a disputa ainda mais difícil.
Derrotar a máquina política a serviço de uma eleição não é tarefa simples. Jackson Lago só foi eleito governador em 2006 porque contou com o apoio integral do então chefe do Executivo, José Reinaldo. As oligarquias municipais, espalhadas por todas as regiões do estado, tecem o processo eleitoral em meticulosas engrenagens familiares, sempre prontas a se alinhar com qualquer governo.
Quanto aos partidos, nem mesmo Flávio Dino conseguiu se eleger sustentado na ideologia comunista ou em uma plataforma de esquerda. Por isso, o governador Carlos Brandão não demonstra preocupação em desmontar totalmente a estrutura política herdada de Dino. Estar no PSB ou no MDB pouco importa para o resultado.
As urnas, afinal, são apartidárias. O que decide a eleição não é a legenda, mas a estrutura social nos grotões, onde a população depende do restaurante popular a R$ 1,50 (almoço e jantar), do poço artesiano e do hospital. No Maranhão, partidos de esquerda, de centro ou de direita não decidem eleições. São apenas “visagens” para inglês ver.