O MST no centro do debate político sem pé nem cabeça
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Quando as terras baratas das chapadas do sul do Maranhão ainda não haviam sido atingidas pela neocolonização dos riograndenses sulistas com seus correntões devastadores de matas e suas enormes ferramentas mecanizadas de prepara da terra, plantio e colheita da soja, a grande maioria dos deputados com assento hoje na Assembleia Legislativa nem havia nascido.
Era a década de 1980 e o governador do Maranhão, Luiz Rocha, filho de pequenos agricultores de Balsas, mas orgulhoso de ser o típico sertanejo retratado no clássico “Os Sertões”, por Euclides da Cunha, como “um forte”.
Até o símbolo da campanha eleitoral dele em 1982, primeira eleição direta de governador, no pós-período de chumbo da ditadura militar de 1964, era uma enxada no ombro de um lavrador. Depois, no governo, Rocha se tornou o maior produtor de arroz de sequeiro do Maranhão, um estado que já havia sido o 2º maior arrozeiro do Brasil, no governo João Castelo (1978-1982).
Mas toda a produção, até então, saía das roças de toco de pequenos agricultores sem a mecanização. Essa tecnologia foi introduzida no Sul do Estado pela leva de gaúchos, aos quais Rocha se juntou como latifundiário que fazia vistas grossas para a grilagem, até na região de Bacabal, como foi na tragédia do povoado São Manoel.
A década de 80 foi dominada por violentas batalhas rurais no Maranhão entre posseiros e grileiros. O arroz maranhense foi sumindo dos centros consumidores, junto com as máquinas de pilar, espalhadas por todo as cidades.
O tipo de soja tropical, adaptada pela Embrapa para as terras do cerrado, até então consideradas “fracas”, virou uma febre no campo, e a produção virou um garimpo de grãos, atraindo não apenas os riograndenses, como também paulistas, mineiros e até russos.
No Nordeste, o Maranhão virou a meca do capitalismo rural, graças à Lei da Terra (2.979/69), da lavra do governo José Sarney. O meio rural virou um campo de batalha, com muita violência e expulsão das famílias rurais de posseiros, para e as periferias ao redor de São Luís e outras cidades – inclusive, até São Paulo.
Mesmo sendo esse um tema muito pesquisado no meio científico das universidades, porém, ainda é pouco conhecido dos políticos, com raras exceções, como foram, por exemplo, os ex-deputados Domingos Dutra, Luís Vila Nova, Haroldo Saboia, Benedito Coroba, Juarez Medeiros, Conceição Andrade, José Costa e Luiz Pedro, assim faz o atual deputado Júlio Mendonça (PCdoB), sem falar nosativistas Manoel de Conceição e o padre Vitor Asselim (falecidos), chefe da CPT, ligada à Igreja Católica.
Portanto, o Maranhão, como o atual maior produtor de soja do Matopiba, parte dela em posses griladas, tem uma dívida histórica com os trabalhadores sem-terra, que resistindo na lula, engajados no MST e congêneres.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra hoje é, disparado, o maior produtor de alimentos que vão à mesa dos riograndenses, maranhenses pobres e ricos e também, dos políticos, como a deputada bolsonarista Mical Damasceno e seu colega Yglésio Moyses.
Os dois aproveitaram uma proposta de homenagem ao MST, Fetaema e Contag, para destilar todo o ódio contra às entidades (chamadas por eles de criminosas e terroristas) que, de fato, encampam a luta pela posse da terra para quem produz comida e não terror. São homens e mulheres que recusam o trabalho escravo nas fazendas – muitas delas de grileiros do agro.
Obviamente que, até nas igrejas evangélicas, fonte dos votos da deputada Mical, e nos redutos endinheirados do médico Yglésio, têm mais eleitores vítimas da violência no campo do que donos de maquinários futuristas do agro.
Felizmente, a maioria da Alema, liderada pela presidente Iracema Vale e movida pelo bom senso, aprovou uma simples sessão especial para reconhecer a importância da luta dos trabalhadores rurais por uma vida digna. Afinal, o século 21 com seus avanços tecnológicos em todas as áreas, precisa chegar a todos cidadãos das cidades e do campo.
Hoje a região dos cocais vem sendo invadida pelos riograndenses e seus correntões destruindo nascentes matas e chapas.