6 de novembro de 2024
DestaquesGeral

Por que eleição na Venezuela é a mais imprevisível em 11 anos

Poucas semanas depois da morte de Hugo Chávez, em 2013, a Venezuela teve uma eleição presidencial parelha, em que Nicolás Maduro — sucessor do falecido presidente — derrotou o opositor Henrique Capriles por poucos votos.

No domingo (28/7), 11 anos depois novamente a oposição se une em um pleito presidencial em que — apesar de obstáculos — poderá derrotar o chavismo. A oposição havia se retirado das eleições de 2018 por considerar que não teria condições justas de competir.

Pela primeira vez em um quarto de século, a oposição — na figura de Edmundo González Urrutia, da coalizão Plataforma Unitaria — aparece em ampla vantagem nas pesquisas.

“Esta é a eleição mais complexa que o chavismo enfrentou e a melhor já enfrentada pela oposição em termos de sua capacidade de ter um resultado favorável, principalmente devido ao alto nível de desejo por mudança e apoio ao candidato opositor”, disse à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC) Luis Vicente León, presidente da consultoria Datanálisis.

“Esse é o momento onde existe maior força de preferência à oposição de qualquer evento presidencial em 25 anos de revolução [bolivariana], ou seja, é a maior posição que a oposição teve e o risco mais alto que o governo enfrentou até agora.”

Embora durante meses inúmeras sondagens independentes tenham dado uma vantagem de mais de 20 pontos a González Urrutia e indicado uma forte rejeição à reeleição de Maduro, desgastado pela longa crise do país, os analistas alertam que os resultados estão longe de ser garantidos.

Mas por quê?

Em primeiro lugar, por conta dos obstáculos que os opositores têm enfrentado.

As denúncias

Desde 2023. quando foi realizada a eleição primária para escolher o candidato presidencial da Plataforma Unitaria, a oposição vem acusando o governo de atuar nas eleições para obter vantagens junto ao eleitorado.

A principal reclamação é sobre a desqualificação da opositora María Corina Machado,

A principal denúncia é sobre a desqualificação política de María Corina Machado, que, apesar de ter vencido as primárias da oposição com uma votação esmagadora, não foi autorizada a registar a sua candidatura presidencial por causa de uma sanção administrativa da Controladoria-Geral da República.

Além de rejeitar que Machado tenha realmente cometido qualquer crime, a oposição lembrou que – segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos – a inabilitação de candidatos só deveria ser imposta após condenação judicial em processo penal e não por meio de procedimento administrativo.

A medida foi anunciada em junho de 2023 pelo então Controlador-Geral da República, Elvis Amoroso, que atualmente preside o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e foi deputado da Assembleia Nacional pelo governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Elvis Amoroso
Como Controlador-Geral da República, Elvis Amoroso desqualificou María Corina Machado da eleição. Agora é ele o responsável pelas eleições como presidente do Conselho Nacional Eleitoral

Diante da impossibilidade de se registar a candidatura de Machado e a substituta que ela escolheu — a professora universitária Corina Yoris —, a Plataforma Unitaria acabou decidindo por González Urrutia, um diplomata aposentado de 74 anos que até meses atrás era desconhecido da maioria dos cidadãos. Apesar disso, ele subiu rapidamente nas pesquisas.

A oposição acusou as forças de segurança e outras instituições do Estado de perseguições sistemáticas com o objetivo de dificultar a campanha eleitoral de Machado, González Urrutia e outros líderes.

Até agora neste ano e até 16 de julho, foram registadas na Venezuela 102 detenções de pessoas ligadas à oposição. Segundo a ONG Foro Penal, 77 ocorreram desde o início formal da campanha em julho.

Um dos presos é Milciades Ávila, chefe de segurança de Machado, que foi detido em 17 de julho e libertado no dia seguinte.

Muitos dos detidos são coordenadores de campanha da oposição em diferentes Estados do país, dirigentes ou simpatizantes dos partidos da Plataforma Unitaria.

Além disso, há seis colaboradores próximos de Machado abrigados na embaixada argentina em Caracas, de onde não puderam sair porque o governo venezuelano os acusa de estarem ligados a planos desestabilizadores.

A oposição também denunciou que outras instituições do Estado — como o órgão de arrecadação de impostos, Seniat — sancionaram hotéis e restaurantes que prestaram serviços a equipes de campanha da oposição.

O governo Maduro garante que estas decisões respeitam a lei e nega que sejam represálias políticas.

Mais em BBC News

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *