Como brasileiros se preparam para a política de deportação de imigrantes da nova era Trump
Trump assume presidência em 20/1 e promete deportar 1 milhão ao ano; imigrantes brasileiros vão do medo à descrença.
Desde a eleição de Donald Trump, em novembro, um clima de incerteza ronda os brasileiros indocumentados nos Estados Unidos. O republicano se elegeu com a promessa de deportar até 1 milhão de imigrantes por ano – nos quatro anos em que foi presidente, sua gestão deportou ao todo 1,5 milhão. Agora, a proximidade da posse preocupa os brasileiros irregulares no país, que temem que políticas mais rígidas acabem com seu “sonho americano”.
É o caso de Leandro*, migrante indocumentado, ou seja, sem autorização para permanecer no país, que trabalha na construção civil e mora nos Estados Unidos há quase duas décadas. Em entrevista à Agência Pública, ele disse que está com mais medo agora do que quando Trump assumiu o poder pela primeira vez, pois o discurso antimigratório foi muito forte durante a última campanha.

“Quando tem um governo republicano no poder, até o cidadão americano republicano fica mais rígido com os imigrantes ilegais. É por isso que eu tenho medo de encontrar um policial republicano quando estiver a caminho do trabalho e ele questionar meu status imigratório e tomar as providências de [me] deportar”, afirmou.
POR QUE ISSO IMPORTA?
- Política antimigratória de Donald Trump pode impactar não apenas a vida de brasileiros, mas as relações internacionais entre Estados Unidos e Brasil, o que também afeta a valorização do dólar frente ao real.
O discurso de Trump desumaniza os migrantes desde quando ainda era candidato à presidência, como quando afirmou, sem base na realidade, que estrangeiros estariam comendo cachorros e gatos no estado de Ohio. Ele prometeu declarar emergência nacional e mobilizar o Exército norte-americano contra essa parcela da população, o que teria de ser aprovado pelo Congresso, de maioria republicana. O republicano disse também pretender eliminar o direito à cidadania aos filhos de migrantes irregulares que nascem nos EUA, o que já havia tentado, sem sucesso, em seu primeiro mandato. Em 12 de dezembro, em entrevista publicada pela revista Time, já eleito, ele disse que fará “o que for preciso para tirá-los”, apesar dos desafios logísticos e econômicos.
Trump escolheu para controlar fronteiras o responsável por uma das políticas migratórias mais criticadas de seu último mandato: Tom Holman, criador da política de separação de famílias. Entre abril e junho de 2018, migrantes que ingressaram de forma irregular pelo México para solicitar asilo tiveram filhos retirados e colocados em celas distintas enquanto o caso estivesse em avaliação. Cerca de 3 mil crianças, ao menos 49 brasileiras, foram separadas dos pais. Até 2020, ao menos 545 ainda não haviam sido reunidas.
A política foi encerrada em razão da má repercussão, mas seu responsável, Holman, chamado por Trump de o “czar da fronteira”, foi apontado para o controle fronteiriço em novembro. Questionado se voltaria a separar famílias, o homem de confiança de Trump afirmou que “famílias podem ser deportadas juntas”, inclusive em casos em que os filhos são americanos.