22 de maio de 2025
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Vontade política pode ser o purgatório dos políticos

Por Raimundo Borges

O Imparcial – É comum se ouvir o eleitor reclamar de governantes que deixam de realizar algo importante para a população “por que lhe faltou vontade política”. De fato, a tão reclamada vontade política é uma condição da qual o mandatário jamais deve dela se desligar facilmente.

Os manuais de política ensinam que em uma democracia a vontade política é um processo coletivo, fundamentado na interação entre diferentes atores sociais, interligados a meios de comunicação, como canais de disseminação do debate público. Isso é formulado na teoria da comunicação humana, mas na prática nem sempre a vontade política se resume no que ensinam os manuais de ciências sociais.

Na vida real, a gente aprende que entre a vontade de fazer e as condições disponíveis para transformar a vontade em ação, há uma distância imensa. É bom que o eleitor, em ano não eleitoral como 2025 no Brasil, fique atento ao que os políticos prometeram realizar, a qualquer custo, nas campanhas de 2022 e 2024 (eleições municipais) em ações nem sempre debatidos com a sociedade.

Mas apenas como um ato de vontade para impressionar o dono do voto, sem avaliar as possibilidades de tornar suas vontades em realidade. Portanto, os compromissos de âmbito partidário, de grupo e de tendências ideológicas são apenas atos de vontade sem respaldo da realidade dos dias presentes.  

O Maranhão, por exemplo, atravessa uma temporada de acordos desfeitos sendo substituídos por vontade política. Em 2014, ex-deputado Flávio Dino tinha a vontade de colocar o pedetista histórico Márcio Onaiser como o vice de sua chapa, como pretendia o então deputado federal Weverton Rocha, voz influente no PDT.

Como o político que ajudou Flávio Dino ser eleito em 2006, deputado federal, junto com Humberto Coutinho (prefeito de Caxias e Tema Cunha, de Tuntum), José Reinaldo convenceu Flávio Dino a trocar Onaiser por Carlos Brandão (PSDB) na vice. O próprio José Reinaldo (PSB), que vinha de um rompimento com o Grupo Sarney, acabou sendo eleito deputado federal.

Como se pode perceber, a política é uma ciência desenvolvida mediante a relação de confiança do eleitor com o eleito, do governante com os governados, cujas interações são resultantes de acordos, coligações e contratos. As vontades que fazem da política uma engrenagem de poder, são também a chave para desmanchar tudo que foi construído em acordos que acabam desfeitos.

Flávio Dino e Brandão se uniram por oito anos – 2014-2022 – em três eleições gerais, mas hoje nem um deles têm mais vontade de manter de pé a união que fez uma das etapas da história do Maranhão mais fascinante, talvez em séculos.      

Hoje, a forças das redes sociais é superior a tudo que se fazia analogicamente na política e na vida social das pessoas. Os políticos aprenderam a se relacionar pelas tecnologias disponíveis, as mesmas ferramentas que são usadas contra a má vontade de cumprir compromissos de campanha ou de fazer da ação política atos desabonadores de conduta.

Nenhuma tecnologia alcançou tamanha importância no mundo de relações democráticas, quanto o pequeno aparelho, que as crianças começam a manusear antes mesmo de dar os primeiros passos. Assim, as redes sociais são quase tudo na relação interpessoal, dentro de fora do ambiente que movimenta a política.

Voltando ao caso Brandão-Dino-Camarão há quem acredite que não há hoje disposição para que o governador Carlos Brandão cumpra o acordo firmado com o político Flávio Dino, hoje ministro do STF, para ele concorrer ao Senado em 2026, passar o comando do governo ao vice Felipe Camarão e dar sequência ao movimento iniciado em 2014, com a ruptura política mais emblemática do Brasil.

Se não há vontade dos lados de reatar o nó que foi desatado, talvez só a dura realidade dos fatos poderá mudar as atitudes e as razões do estrangulamento. Tem um ano para que essa política retome à normalidade, em 5 abril de 2026, ou a história política do Maranhão poderá passar, democraticamente, por novo recomeço.   

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