24 de abril de 2025
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A ilógica da política leva Pedro Lucas desistir do governo Lula

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Não é de hoje, não foi no passado, muito menos será no futuro. A lógica da política é um tema enigmático para quem se dedica a estudá-lo. Paradoxalmente, a matéria não se enquadra na clássica definição de lógica alguma. No Maranhão de hoje há um paradoxo no jogo da política.

Há duas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou o ministro das Comunicações Juscelino Rezende a pedir demissão e deixou a cadeira vazia na Esplanada para ocupá-la com o também deputado federal do Maranhão, Pedro Lucas, do mesmo partido União Brasil, do colega defenestrado. O convite foi feito e anunciado pela ministra das Relações Institucionais Gleisi Hoffmann (PT), mas Pedro Lucas deu um passo atrás e já avisa pelas redes sociais e entrevistas que pode não aceitar entrar no governo federal.

Lucas está diante da ilógica política. Nem bem havia aceito o convite para o cargo ministerial e a imprensa já dá conta de que ele enviou nada menos do que R$ 30 milhões em emendas pix, entre 2023/2025, para o município de Arame, cujo prefeito, Pedro Fernandes, é pai do parlamentar. O pecado das emendas do antigo orçamento secreto, direcionadas para obras que beneficiaram suas fazendas e as da família em Vitorino Freire, acabou por levar Juscelino ao purgatório na gestão pública da Esplanada.

Depois de denunciado ao STF pela Procuradoria-Geral da República (PGR), Lula não teve como segurá-lo. Agora, o líder da União Brasil sofre pressão interna de uma parte do partido para não aceitar o convite.

No passo atrás que deu durante os dias da Semana Santa, Pedro Lucas apenas agradeceu ao convite de Lula, com quem viajou na comitiva à Ásia, mas pediu para “esperar um encontro com a bancada”, marcado para ontem, 23/04. A UB teme que Lucas seja atingido pelo mesmo vendaval de emendas que abateu Juscelino, assim como não está à vontade para indicá-lo como novo líder da bancada, com o desgaste da demissão.

Sem falar na questão eleitoral de 2026, com a possibilidade de Ronaldo Caiado (UB) vir a disputar o Planalto, contra Lula, chefe de Pedro Lucas. Até a queda na popularidade do presidente da República colocou os partidos da base aliada com cargo na Esplanada em alerta máximo.

A União Brasil é resultante da fusão do PSL com o DEM em 2022 que, por sua vez, tem como filosofia programática a defesa da democracia, do liberalismo conservador e da justiça social. Foi criado em 1985, com o nome de PFL. Portanto, é um dos partidos de direita no governo de esquerda, semente da dissidência do PDS.

Um ano antes, em 1984, era presidido por José Sarney, que o abandonou para se filiar ao PMDB de Tancredo Neves e, em 1985, tornar-se presidente da República, após 20 anos do golpe militar de 1964. Hoje, a UB tem 59 deputados na Câmara, sete senadores e quatro governadores (Goiás, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia), além do presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre.

Pela lógica, Brasília, a capital da República Brasileira, nasceu há 65 anos, com o objetivo de unir um Brasil dividido, a partir de sua localização geográfica no Planalto Central. O historiador e jornalista Adirson Vasconcelos, ex-diretor de O IMPARCIAL, viu de perto a cidade crescer, ganhar forma, cores e se destacar no cenário nacional.

Ele, que escreveu vários livros sobre a cidade, afirma que “Brasília é a capital do 3º milênio”, repetindo o seu fundador Juscelino Kubitschek. Mas Brasília está longe de ser o centro aglutinador da unidade nacional. Ao contrário, o DF traz a marca das desavenças, do confronto, do puxa-encolhe – ora fruto da dinâmica democrática, ora pela desmedida ganância de poder.

O gás que inflama o ambiente político da capital federal é a eleição presidencial. O Centrão, que já sugou o que tinha de sugar do governo petista, agora quer fazer Pedro Lucas dizer tchau a Lula. Quando assumiu o governo em 2023, o governo Lula tinha 11 partidos e 317 deputados a seu favor, mas quase 100 deles nunca sabem o que é lealdade em cada votação complicada.

Mesmo assim, em todas as matérias polêmicas de interesse do Planalto, a articulação política de Lula tem que entrar como força-tarefa, nem sempre bem-sucedida. Portanto, a lógica da política em Brasília não está nos manuais de sociologia, mas na prática e nas circunstâncias de cada momento histórico, conforme os interesses em jogo.

Um comentário sobre “A ilógica da política leva Pedro Lucas desistir do governo Lula

  • Companheiro, bom dia. Pedro Lucas recusou o convite ou foi vetado? Se foi feita a comunicação do seu nome pela ministra da pasta política, seria de se deduzir que estava tudo acertado. Houve precipitação do governo ao anunciar o seu nome ou o partido não o apoiou ou houve veto? Tudo muito estranho em uma situação política bastante delicada, inclusive pelos antecedentes da saída do ministro anterior.

    Cursino Moreira – economista

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