Do Irã a Israel: A Geopolítica do Sangue
Por Michel Teixeira
Longe de mim defender o regime autoritário e teocrático do Irã. Trata-se de um governo opressor, onde mulheres são silenciadas, opositores são perseguidos e a liberdade de expressão é um risco de morte. Um Estado que nega direitos básicos, investe em milícias regionais e alimenta tensões com seus vizinhos, promovendo uma política externa baseada no confronto e no radicalismo ideológico.
Mas, também, longe de mim apoiar o espírito bélico e intervencionista dos Estados Unidos, uma potência que se vende como defensora da liberdade, mas age com brutal seletividade. Se os EUA realmente estivessem preocupados com a paz mundial, por que não intervieram em diversas ditaduras sangrentas da África, onde populações inteiras são massacradas e regimes de terror se perpetuam?
Exemplos não faltam: a Eritreia, comandada por Isaias Afwerki desde 1993, é um dos países mais fechados do mundo, onde não há eleições livres e opositores são enviados a campos de trabalho forçado; o Sudão, assolado por uma guerra civil brutal entre facções militares, já deixou mais de 150 mil mortos e 14 milhões de pessoas deslocadas em apenas dois anos; a República Democrática do Congo, onde conflitos armados duram décadas, com estupros em massa usados como arma de guerra; e a Guiné Equatorial, governada pela mesma família desde 1979, enquanto a população vive na miséria e a elite ostenta fortuna. Nada disso parece incomodar Washington. E o motivo é claro: não há petróleo, não há rota estratégica, não há interesse comercial direto.
O conflito entre EUA, Irã e Israel não é essencialmente ideológico ou religioso, é geopolítico, energético e comercial. O que está em jogo são interesses bilionários, hegemonia militar e o controle de recursos vitais. O Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 30% do petróleo transportado por mar no mundo, é um ponto nevrálgico que torna o Irã uma peça central no jogo. Israel, por sua vez, é o principal aliado estratégico dos EUA no Oriente Médio, um Estado que, embora democrático em sua forma, tem adotado nos últimos anos práticas cada vez mais autoritárias, principalmente nas ações militares contra os palestinos.
E o mais alarmante é que esse tabuleiro não se resume a três peças. Rússia e China também observam e atuam nesse xadrez com olhos atentos. Moscou, já envolvida na guerra da Ucrânia, vê no caos do Oriente Médio uma chance de desviar a atenção internacional e ampliar sua influência. Pequim, por outro lado, busca estabilidade nos fluxos energéticos e alianças estratégicas que desafiem a ordem ocidental. A atuação dessas potências não é passiva: é calculada e crescente, especialmente num momento em que o mundo inteiro parece uma panela de pressão prestes a explodir.
Estamos diante de uma nova era de instabilidade global. Um tempo em que alianças se reorganizam não por valores, mas por conveniência e domínio. Onde cada passo em falso pode ter consequências irreversíveis. O risco não é apenas de uma guerra regional, é de um efeito dominó com impacto planetário.
É hora de abandonar o maniqueísmo infantil que divide o mundo entre “mocinhos e vilões”. O que há, de fato, são interesses disfarçados de princípios e vidas humanas usadas como moeda de troca. A paz não será alcançada com tanques ou drones. Ela só virá quando as nações colocarem o ser humano acima do petróleo, e a dignidade acima da dominação.