21 de agosto de 2025
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Bolsonarismo fomenta guerra política sem porta de saída

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Nem quando esteve na Presidência da República o ex-capitão Jair Messias Bolsonaro, seus filhos e a esposa, Michelle, estiveram tão evidentes no noticiário nacional e até no exterior. Mas não é só no noticiário político que a palavra “Bolsonaro” está em alta.

Desde 2023, nos relatórios da Polícia Federal sobre a trama golpista contra o Estado de Direito, o nome do chefe do clã Bolsonaro apareceu 93 vezes em 105 páginas. Em outro documento da PF sobre o mesmo tema, liberado pelo STF em novembro de 2024, o nome do ex-presidente apareceu 530 vezes. Bolsonaro, no entanto, ainda rebate sua participação, alegando que as investigações são perseguição e que a palavra “golpe” nunca esteve em seu dicionário.

Nas edições de ontem, 23, os jornais do Rio e de São Paulo não deixaram o nome Bolsonaro fora de suas manchetes, análises e artigos. No editorial, a Folha de S. Paulo registra que “só Trump e Bolsonaro lucram com a força bruta”. Em O Globo, o articulista Lauro Jardim crava: “Por que Cláudio Castro desistiu de dar cargo a Eduardo Bolsonaro?”.

Tiago Prado também segue na mesma linha: “Família Bolsonaro resiste a Tarcísio e vive clima de prévia interna”; Bernardo Mello Franco escreve: “Em três dias, Bolsonaro transforma tornozeleira em ativo eleitoral”; e o Correio Braziliense, no Distrito Federal, destaca na manchete: “Bolsonaro evita imprensa e segue para sede do PL, à espera de decisão do STF”.

Quando o noticiário trata do tarifaço de Donald Trump sobre as importações brasileiras, em pressão pela anistia do ex-presidente no STF, novamente o nome Bolsonaro ocupa o mesmo patamar de importância jornalística — como fez o Correio Braziliense, ao destacar o dano irreversível à economia, na manchete: “Tarifaço pode tirar R$ 175 bi da economia e 1,3 milhão de empregos do Brasil”.

Nos sites de notícia — da esquerda à direita — o nome Bolsonaro bomba nas matérias de capa e nas redes, principalmente depois que a PF passou a monitorá-lo por tornozeleira eletrônica, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, o alvo preferencial do ódio do clã Bolsonaro, dos bolsonaristas, de Donald Trump e de parte do Congresso.

Ninguém mais fala de inflação, aumento de salário, corte de gastos do governo federal ou do preço da carne que, com o tarifaço de 50% nos Estados Unidos, deve inundar os açougues brasileiros. Mas é Bolsonaro quem domina as mídias. Uma pesquisa da agência Nexus constatou, porém, que após o uso da tornozeleira, até a esquerda, enfim, superou a direita em engajamento no X, de Elon Musk.

Entre as 9h de segunda-feira (21) e o mesmo horário de terça (22), expressões ligadas à esquerda dominaram os trending topics. Com tanta notícia sobre temas tão explosivos, quem perde é a população, em meio à guerra selvagem da desinformação nas mídias eletrônicas.

Por exemplo: a Nexus apurou que a expressão “Chuva de Lula” liderou o ranking de engajamento (interação e envolvimento dos usuários) nas redes sociais, com um milhão de menções, seguida por “democracia sempre” (5º lugar, com 411 mil) e “Eduardo Bolsonaro cassado” (9º lugar, com 110 mil postagens). Não é segredo que todo esse furdunço nas mídias e na vida real do país diz respeito a todos.

Desde o humilde trabalhador da limpeza pública até o magnata banqueiro e o exportador de qualquer produto para os Estados Unidos. Se o Brasil não fosse uma democracia robusta e uma economia em franco processo de evolução no contexto mundial, onde estaríamos em meio a essa torrente política?

A guerra política entre bolsonaristas e lulistas é violentamente danosa ao Brasil. O país ainda não mergulhou numa hecatombe social e econômica por ter instituições fortes, um potencial em expansão e um povo sem medo. Nem as mazelas da atuação do Congresso Nacional, diante de momentos tão graves, conseguem impedir o país de avançar.

Mas a divisão ideológica no Brasil afeta a vida do cidadão em diversos níveis de importância — desde o acesso a serviços públicos até as relações sociais, o comércio internacional, a produção local e a participação política da sociedade nas decisões governamentais. Todos falam em diálogo, mas as falas estão longe de um contexto civilizatório e construtivo.

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