O Brasil nunca deveria entrar no humilhante mapa da fome
Por Raimundo Borges
O Imparcial – A fome não tem ideologia, nem participa da divisão política atual do Brasil, embora os famintos brasileiros somem o maior contingente de eleitores. A ideologia dessa multidão não está nos manuais de política, mas no ronco do estômago vazio.
Esta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemorou o fato histórico de o Brasil ter sido retirado do Mapa da Fome pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. O petista disse: “Quem nunca passou fome não sabe quanta falta faz comer” e garantiu que os brasileiros vão poder comer ao menos três refeições por dia.
Falar de fome, o presidente do Brasil, único na história a ser eleito pelo voto direto três vezes, sabe o que significa. Ele nasceu na zona rural de Garanhuns (230 km de Recife), agreste do Nordeste, cidade conhecida como “Suíça Pernambucana”.
Hoje, com 79 anos, Luiz Inácio viveu em Garanhuns na pobreza extrema até os cinco anos, quando migrou com a mãe, Eurídice, para São Vicente de Carvalho (SP), onde o pai, Aristides, já trabalhava na estiva do porto de Santos. A viagem de pau-de-arara durou 13 dias, em que a família se alimentou de farinha de puba, rapadura e queijo. No litoral, ele vendia amendoim, tapioca e laranja.
Já o Maranhão, ao longo de décadas, tem contribuído para o vergonhoso mapa da fome do Brasil. É o estado que, apesar do imenso potencial econômico, tem sido ultrapassado pelos vizinhos do Norte e do Nordeste, como o Pará e o Piauí. Em maio deste ano, porém, o governo Carlos Brandão lançou o Programa Maranhão Livre da Fome, com a meta de erradicar essa tragédia social nos 217 municípios maranhenses.
O governo garante um complemento financeiro de R$ 200 às famílias beneficiárias do Bolsa Família que, mesmo recebendo o auxílio federal, ainda vivem com renda mensal inferior a R$ 218 per capita e, portanto, permanecem abaixo da linha da pobreza extrema.
Além desse valor, famílias incluídas no programa com crianças de 0 a 6 anos recebem um adicional de R$ 50 por cada uma. É com iniciativa desse porte, somada a outras ações no sistema viário do Estado, na Agricultura Familiar, na Educação e na Saúde, que Brandão pretende não arredar o pé do Palácio dos Leões antes do término de seu mandato, em 31 de dezembro de 2026.
Está decidido a não disputar o Senado, para apoiar a candidatura de seu secretário de Assuntos Municipalistas, o jovem Orleans Brandão – um projeto que o afasta, a cada dia, do grupo remanescente do ex-governador Flávio Dino, ministro do STF.
Enquanto toca o programa Maranhão sem Fome, o governo do Estado amplia também a rede de Restaurantes Populares, que já soma 185 unidades espalhadas pelos municípios, a partir de São Luís.
Envolve uma gigantesca operação de logística e estratégia para colocar todos em funcionamento, ao preço simbólico de R$ 2,50 pelo café da manhã, almoço e jantar. Brandão diz que seu governo mantém a maior rede de segurança alimentar da América Latina. “É um programa que atende, por dia, mais de 186 mil pessoas. Nenhum estado do Brasil tem isso”, garantiu. Seria ótimo se nenhum estado precisasse.
A notícia de que o Brasil saiu do famigerado Mapa da Fome pela segunda vez neste século foi — e precisa ser — vista como algo positivo. Portanto, o fato obteve tanta repercussão. Além dos números, é preciso compreender os cenários analisados pela FAO/ONU. O Brasil ainda vive o paradoxo de ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas, ao mesmo tempo, ainda contabiliza milhões de pessoas em dificuldades alimentares.
Chega a ser vergonhoso um país com tanta produção de alimento viver oscilando entre entrar e sair do Mapa da Fome. A fonte desse drama está na cara de todos: as desigualdades, que as elites torcem o nariz toda vez que o governo fala em gastar com programas sociais de combate à pobreza — com comida, geração de renda e cota no ensino universitário.