9 de agosto de 2025
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As escaramuças dos vices maranhenses nas eleições

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Na política, o vice no Poder Executivo opera como uma sombra do titular. Já o suplente no Legislativo é visto como visagem distante. No caso do Brasil, o maranhense José Sarney foi, sem dúvida, o vice-presidente da República que demarcou mais profundamente a história do século 20.

Como mandatário, foi o responsável pela transição sem traumas da ditadura militar, de 21 anos, para a democracia que o país tem hoje – forte, respeitada e transformadora. Sarney ascendeu à Presidência num momento dramático, com a morte de Tancredo Neves, que nem chegou à porta do Palácio do Planalto.

Seja por qual motivo for, a escolha de um vice para qualquer cargo executivo não é uma tarefa fácil. E, mesmo assim, a história política está cheia de traições e conspirações de vices contra o titular do mandato ou, às vezes, o contrário. Não raramente, o titular expurga a figura de sua sombra para o mais distante possível.

No Palácio dos Leões, por exemplo, não há gabinete de vice. Na hierarquia do Vaticano também não. Carlos Brandão foi vice de Flávio Dino entre 2015 e 2022. A convivência foi harmoniosa até 2023, quando Dino deixou a política pela toga vitalícia de ministro do Supremo Tribunal Federal. Hoje, ele e Brandão vivem às turras, e o grupo que ambos criaram em 2014 partiu-se ao meio.

Com a titularidade do mandato de governador em 2022, o ex-vice Brandão passou a remodelar o grupo e o consolidou em 2024 nas eleições municipais, elegendo mais de 170 prefeitos dos mais diferentes espectros ideológicos, a partir do PSB e do MDB. Já o PT do vice-governador Felipe Camarão andava distanciado de Brandão naquele pleito, conseguindo eleger apenas dois prefeitos de cidades pequenas, contra 40 do PL, 37 do MDB e 19 do PSB.

Agora, com Brandão apoiando o sobrinho Orleans no projeto de governador em 2026, Camarão se movimenta rumo à oposição, com o deputado Fernando Braide junto, irmão do prefeito Eduardo Braide, que cava espaço na eleição majoritária.

Enquanto o governador e o vice marcham rompidos politicamente, a vice-prefeita de São Luís, Esmênia Miranda, do mesmo PSD de Braide, aparece nas redes sociais em foto ao lado de Carlos Brandão.

Mesmo sendo num evento institucional – a posse do novo superintendente da Polícia Federal do Maranhão, Guilherme Nunes –, a imagem, porém, não passou despercebida por políticos e jornalistas. Esmênia estava ali representando Braide e posou entre Brandão e o deputado bolsonarista Aluísio Mendes (Republicanos). Conclusão a respeito da foto: nenhuma. Por enquanto, apenas material descartável nas especulações.

Esmênia, que foi reconduzida na chapa de Braide em 2024, nunca esboçou qualquer reação no âmbito administrativo que pudesse estremecer a relação com o titular, nem mesmo quando foi trocada na Secretaria de Educação do Município. No entanto, o prefeito sabe que, no momento em que eventualmente vier a passar-lhe a caneta, o diário oficial e a faixa do poder, ela será a prefeita e ele o candidato a governador.

Talvez por isso Braide nunca tenha antecipado sua pré-candidatura ao Palácio dos Leões. Afinal, a gestão municipal está com aprovação nas alturas. Ele pode não querer arriscar o mandato numa aventura de cenários nebulosos como o de 2026.

Já Brandão ensaia ficar no cargo até o fim. Mas sabe que o jogo da sucessão estadual passa pela esfera federal, hoje mergulhada na pior crise política brasileira. Nem Lula tem plena certeza de sua candidatura, nem o flanco da extrema-direita aponta um nome. As pesquisas que hoje favorecem o petista amanhã não serão as mesmas.

Até o vice Geraldo Alckmin desponta, no meio da crise do tarifaço de Trump, como alternativa viável a Lula. Não é à toa que Jair Bolsonaro, ao tentar ironizar, ao depor no STF, convidando o ministro Alexandre de Moraes para seu vice em 2026, recebeu uma resposta seca e direta: “Declino!”.

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