Antônio Houaiss: o intelectual que moldou a língua e a diplomacia brasileira
Revista Fórum – Um dos mais importantes intelectuais brasileiros é quase desconhecido pelo grande público, mas suas contribuições para a cultura e política brasileira são incomparáveis.
O nome Antônio Houaiss é, para muitos, sinônimo de erudição e da língua portuguesa. Mas poucos sabem que esse homem — lembrado principalmente pelo monumental Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa — teve uma trajetória que ultrapassou as fronteiras da filologia. Diplomata, ministro, acadêmico, tradutor e militante político, Houaiss foi um dos grandes intelectuais brasileiros do século XX e desempenhou papel essencial na construção cultural e diplomática do país.
Dos livros à diplomacia
Nascido no Rio de Janeiro, em 1915, Antônio Houaiss começou sua vida profissional como professor e filólogo, apaixonado pela língua portuguesa e suas raízes. Formado em Letras Neolatinas, logo se destacou por seu vasto conhecimento linguístico e literário.
Ainda jovem, ingressou na diplomaciabrasileira, onde atuou em países como Portugal e Itália, aproximando o Brasil de debates culturais e humanísticos internacionais.
Sua carreira diplomática, no entanto, foi interrompida durante a Ditadura Militar, período em que Houaiss foi afastado do Itamaraty por motivos políticos — ele era um defensor ativo da democracia e dos direitos humanos.
Após o fim da ditadura, Houaiss continuou engajado na vida pública. Participou da fundação do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e foi ministro da Cultura no governo de Itamar Franco, em 1993.
No cargo, defendeu uma política cultural ampla, voltada à valorização da diversidade linguística e artística do país, e incentivou a criação de programas de preservação da memória e do patrimônio cultural brasileiro.
Mas foi como linguista e lexicógrafo que Antônio Houaiss se tornou imortal. Em 1985, iniciou o projeto que seria sua obra máxima: o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, um dos mais completos e respeitados da língua, com mais de 230 mil verbetes e riquíssimo aparato etimológico.
Mesmo após sua morte, em 1999, o trabalho continuou sendo atualizado por sua equipe e permanece referência obrigatória para estudiosos, escritores e jornalistas.
Legado cultural
Membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 17, Houaiss foi também tradutor de grandes clássicos, como Dom Quixote, e defensor da valorização da cultura como instrumento de identidade nacional.
Seu legado ultrapassa o campo das letras: foi um intelectual completo, que acreditava no poder da linguagem para transformar sociedades e no papel da educação como base de um país soberano.