Arapongagem implode o grupo de Dino e Brandão
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O grupo político liderado por Flávio Dino e Carlos Brandão, que assumiu o poder no Maranhão em 2014 e venceu as eleições de 2018 e 2022 como uma fortaleza de ideias e ações que pareciam durar um século, desmoronou.
As acusações que invadem as redes sociais e alimentam discursos inflamados de aliados até recentemente fizeram do Maranhão uma Faixa de Gaza tupiniquim, na qual a cadeira de governador em 2027 é o centro nevrálgico da guerra. Não há Trump para ordenar, nem Netanyahu para obedecer, mas há um exército disposto a detonar o que aparecer pela frente com marcas do PCdoB, PSB e PT.
A senadora Ana Paula Lobato, que em agosto saiu do SD e assumiu o PSB regional, até então nas mãos de Carlos Brandão, na terça-feira, 21, determinou que todos os filiados do partido entreguem seus cargos no governo estadual. Brandão e seus aliados estão ainda no partido da mulher de seu principal opositor na Assembleia Legislativa.
O único deputado federal do PT-MA e vice-presidente da Executiva Nacional, Rubens Jr., pediu, da tribuna da Câmara, na terça-feira, 21, a demissão do pai, Rubens Pereira, o Rubão, da Secretaria de Articulação Política de Brandão, enquanto acusava o governo de grampear conversas dele com Márcio Jerry e outros políticos aliados do chamado lado dinista do grupo.
Na mesma terça-feira, em discurso na Alema, o deputado Yglésio Moyses (PRTB), que se define como legítimo representante do bolsonarismo no Estado, expôs as peças da crise que rachou o grupo dinista/brandonista e colocou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, como o sujeito oculto. De quebra, não poupou os aliados de Dino, como os deputados Márcio Jerry (PCdoB) e o vice-governador Felipe Camarão (PT).
Yglésio exibiu materiais explosivos em áudios e prints de conversas e mensagens de texto trocadas entre Jerry e Rubens Jr., tudo gravado em arapongagem clandestina. Citava ainda Diego Galdino, aliado de Dino, adjunto de André Fufuca (PP) – ministro dos Esportes – e o desembargador federal Ney Bello, com falas nada republicanas sobre Carlos Brandão.
Em nota oficial divulgada em suas redes sociais, nesta quarta, 22, o governador Carlos Brandão deu sua versão sobre o caso das gravações em que ele e o irmão caçula, Marcus Brandão, são acusados de mandar fazer. “Eu não gravei, meu governo não gravou. Eles se fizeram gravar”, resumiu.
Disse que o que veio a público já era sabido e revelou que o deputado Rubens Júnior lhe mandou recado e fez uma oferta: “Eu apoiaria candidatura de interesse do deputado Márcio Jerry em Colinas, e as vagas retidas do TCE seriam liberadas. O próprio Rubens Júnior confirmou na tribuna da Câmara Federal”, acrescentou Brandão. Já Marcus Brandão também disse que “o Maranhão todo sabe das pressões, tentativas de achaques, ameaças, chantagens e barganhas de apoios políticos contra o governador”.
Na mesma terça-feira, Jerry, Ana Paula e Rubens Jr. foram à ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) relatar-lhe a situação caótica na base aliada do presidente Lula no Maranhão – um de seus principais redutos eleitorais. Em nota assinada pelo presidente nacional do PT, Edinho Silva, e pela presidente do diretório estadual, Patrícia Carlos, o PT presta solidariedade a Rubens Jr. “diante das gravações ilegais sobre as quais ele se manifestou na tribuna da Câmara”.
Elogia o deputado e ensina que “na política o combustível é o diálogo e a premissa maior das relações é a confiança”. E conclama esforços para fortalecer uma grande frente ampla no Maranhão, que amplie a votação de Lula em 2026 e eleja parlamentares.
O PT, no entanto, nem de longe sugere desembarcar do governo Carlos Brandão, onde o ex-deputado Zé Carlos (superintendente do Incra) indicou Lília Raquel para a Secretaria de Direitos Humanos e Criciele Muniz para a reitoria dos Institutos de Educação e Tecnologia do Maranhão (Iemas). Já Washington Oliveira, secretário da Representação do Governo em Brasília, seria padrinho do secretário de Trabalho, Henrique Lula da Silva.
O PT participa ainda com vários adjuntos e dezenas de cargos intermediários na equipe de Brandão. Um deles disse, sob anonimato, que “quem está no centro da crise com Brandão são ‘petistas’ sem histórico no PT: Felipe Camarão e Rubens Jr., filiados em 2022”.
Confira abaixo, na íntegra, as notas divulgadas pelo governador Carlos Brandão, pelo presidente do MDB-MA, Marcos Brandão, e pelo Partido dos Trabalhadores.