“Não sabia que existia WhatsApp”: A história da freira que deixou convento para casar
Revista Fórum – A ex-freira Grasiele de Oliveira Loureiro, de 43 anos, nasceu e cresceu em Itajaí, Santa Catarina. Até os 20 anos, levava uma vida comum, frequentando festas, saídas com amigos e a missa dominical por influência do pai. Em 2003, sentiu um chamado espiritual que mudou seu caminho: decidiu seguir a Ordem dos Carmelitas, optando por uma vida de oração contemplativa.
Ela passou por três conventos diferentes ao longo de seis anos, começando em Tremembé, São Paulo. Depois esteve em São José, SC, e Porto Alegre, RS. Sobre a decisão de deixar a clausura, Grasiele afirma: “Eu amo a vida lá dentro, mas tive que admitir que não conseguiria. Não tinha vocação”.
A rotina nos conventos era intensa e silenciosa. “Acordávamos às 4h30 ou 5 horas para rezar laudes. Depois tinha a oração mental e a missa das 7”, detalhou. Todo o dia seguia horários rígidos para estudo, trabalho manual e refeições, sempre preservando o silêncio interior.
O isolamento era rigoroso. “A gente deve andar no claustro de cabeça baixa… para manter o silêncio interior. Você não fica olhando o que está acontecendo com a irmã que está passando”, disse. As visitas externas eram raras e mediadas por grades, e qualquer barulho, até na cozinha, precisava ser evitado.
Grasiele enfrentou desafios emocionais durante a clausura. “Eu entrei no carmelo em 2008 e saí em 2010: tive depressão lá dentro”, contou. Após tratamento, voltou para o convento em Santa Catarina e depois em Porto Alegre, até sair definitivamente em 2014. Sobre a vida fora do convento, ela lembra com surpresa: “Na primeira vez que saí, não sabia que existia WhatsApp — não tinha smartphone, para mim era tudo novidade”.
Inicialmente, não via a vida conjugal como uma opção. “Não via beleza no matrimônio… achava que a santidade seria melhor solteira”, explicou. Com o tempo, ao conviver com amigas casadas, passou a enxergar o matrimônio também como caminho de fé.
Em 2018, conheceu seu atual marido, e se casaram em 2019. O casal enfrentou dificuldades, incluindo um aborto e uma menopausa precoce, e hoje está há cinco anos na fila de adoção. “Comecei a ver que gerar filhos para Deus também é um caminho de santidade”, disse Grasiele.
Atualmente, ela administra uma agência de marketing digital em Itajaí e mantém contato com algumas irmãs do convento. “Continuo estudando, lendo obras, e ainda tenho contato com algumas irmãs”, afirmou. Sua história mostra o equilíbrio entre fé, trabalho e família, após anos de clausura e desafios pessoais.