Brandão fala do governo, mas ‘esquece’ da eleição
Por Raimundo Borges

O Imparcial – Carlos Brandão chegou ao fim de 2025 mostrando o que fez no governo e com pouquíssimas palavras sobre 2026, o ano determinante para sua carreira política e a do grupo que lidera. Ele recorreu até ao laudatório de Paulo Freire, maior pensador educacional do Brasil no século 20, mundialmente conhecido pela pedagogia crítica e libertadora, mas nada disse sobre a eleição de 2026. “Esperança não se trata de esperar. Trata-se de ‘esperançar’, de ir atrás, de se juntar e de nunca desistir – como diria Paulo Freire”, pontuou Brandão, no artigo que publica semanalmente nos jornais de São Luís. Ele sabe também que o verbo “esperançar”, na teoria de Paulo Freire, tem o sentido de agir, mobilizar e construir.
Para um governador em fim de cinco anos de mandato, o verbo que faz mais sentido é o de mobilizar. Com o ano eleitoral batendo à porta do Palácio dos Leões, Brandão sabe que, para qualquer governante, fim de mandato é o período mais carregado de fraquezas humanas, como traição, futrica, manobras furtivas, confronto e desespero. Para quem resolve encarar até o último dia dos cinco anos de governo, é uma missão muito mais do que desafiadora. É a consolidação da integridade do grupo que lidera até o cruzar de 2026, sustentando a vitória do sobrinho Orleans como sucessor, ou aceitar uma eventual derrota como parte do jogo político, no estilo soft perder, de José Sarney e Roseana em 2014.
Ao contrário da chegada de Flávio Dino ao poder, em 2015, véspera do tumultuado golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016, da substituição por Michel Temer e dos quase três anos com o inimigo Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, Brandão foi um sortudo. Firmou com o governo Lula a maior parceria federal da história maranhense. Nem o governo Sarney foi tão generoso em termos de investimentos no estado campeão de baixos indicadores sociais e econômicos. Em 2023, o estado tinha quatro ministros despachando na Esplanada, e agora são dois, mas as parcerias não perderam força por causa dessa questão.
O nó da ação governamental passa pelo presidente Lula e pelo futuro do Palácio dos Leões. Eleição se ganha com união. Só Epitácio Cafeteira foi eleito no Maranhão, em 1986, sem precisar de esforço para agrupar partidos e lideranças. Sarney, no Planalto, vivia a euforia do Plano Cruzado, com seus “fiscais” agindo como militantes políticos em todo o país. No Maranhão, Cafeteira deu um “passeio” de urna e uma surra de votos em João Castelo, no placar de um milhão contra 212 mil. O PFL e o MDB elegeram 16 dos 18 deputados federais. Dos 42 estaduais, havia uns dois resmungando na oposição. No Brasil, o MDB de Sarney elegeu 22 dos então 23 governadores, 49 senadores e 487 deputados federais.
Hoje, o Maranhão tem o apoio do presidente Lula, provavelmente candidato à reeleição e líder em todas as pesquisas. Mas a eleição de governador encontra-se embaraçada, com três pré-candidatos bem colocados nas pesquisas: o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), e o secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), se revezam nas intenções de voto, mas ambos navegando pelo mesmo terreno ideológico de centro-direita. E, na mesma via política, trafega a pré-candidatura do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim. Mas ninguém sabe se Lula será mesmo candidato, se Braide vai arriscar o Palácio dos Leões e se Brandão fica até o fim em favor do sobrinho, Orleans.
No final do artigo de fim de ano, nenhuma palavra de Brandão sobre política em 2026. Fala em novos desafios e novas possibilidades. E roga, falando baixinho, que “o novo ano nos encontre ainda mais unidos. Com paz, saúde, harmonia e conquistas coletivas. Que sigamos juntos – governo e povo”. Nem um tiquinho de eleição aparece na mensagem em que o governador presta contas de mais de mil ações nas diferentes plataformas da gestão estadual. Braide também não tocou no ano novo eleitoral. De propósito. Mas o presidente Lula prometeu “acabar com a fome no Brasil até 31 de dezembro de 2026”. Todos estão com medo.
