22 de dezembro de 2024
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Nem esquerda nem direita, o voto de SL é “sarneísta”

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Brasil está a sete dias de sua menor eleição municipal em 12 anos em número de partidos, e 16 anos, em número de candidatos. Mesmo assim, em vários estados, a disputa pelos mandatos de prefeito e vereador se transformou em uma guerra de violência física e baixarias no horário eleitoral e nas redes sociais.

São 463 mil candidatos, quase a metade da população total de São Luís. Isso significa que a disputa para a captura do voto arrasta uma multidão contada em milhões, de cabos eleitorais, marqueteiros, apoiadores, que resulta na tensão que tem produzido todo tipo de confrontos nos debates televisivos, com cadeiradas, socos, pontapés e baixarias nas redes sociais.

Quase tudo que não foi permitido em 2020 em razão das restrições impostas pela pandemia da Covid-19 surgiu agora, com o país dividido na maior polarização ideológica jamais vista em sua história, entre a extrema direita e a esquerda. É uma realidade política que, infelizmente tem a democracia como a maior vítima.

Esta semana, o Instituto de Pesquisa DataSenado divulgou um estudo inédito e curioso. Mostra quais estados brasileiros têm maior ou menor inclinação ideológica à direita e à esquerda. Dos 21.808 entrevistados, 40% disseram não se considerar de esquerda, de direita, nem de centro.

Do universo de 60% dos que têm inclinação ideológica, 11% dizem ser de centro, 29% de direita e 15% de esquerda. Significa que no Brasil, com um histórico de golpes e ditaduras militares desde a proclamação de República, a repulsa à ideologia de esquerda virou, para muitos, algo como a demonização do comunismo.

Hoje é mais fácil se dizer de direita, mesmo sem entender tudo sobre o que isso significa, do que alguém abrir a boca e dizer “sou comunista”, como alguns se propalam “bolsonaristas”. Entre os estados de população neutra politicamente, o Maranhão aparece com 52% de seus eleitores.

Talvez o estudo do DataSenado explique o pragmatismo eleitoral dos maranhenses como uma tendência à política de resultado. O clientelismo desabrido é mais forte do que qualquer ideologia social. Foi nesse ambiente de troca de favores pelo voto que surgiu a corrente de pensamento sócio-político instalada no Maranhão, chamada de “Sarneísmo”.

Por trás desse modelo estava o ex-presidente da República José Sarney, o homem mais poderoso do Brasil e do Maranhão em quase 50 anos. Agora, a revelação do DataSenado, de que mais da metade dos maranhenses (52%) não comunga de nenhum lado ideológico da política, pode ser a sombra do sarneísmoainda latente.

Afinal, José Sarney, aos 94 anos, desde governador do Maranhão (1966-1970) até os dias atuais, foi tudo que um político possa imaginar ser, pelo tempo de vida e pelo poder que acumulou, sempre balizado na democracia. Sarney jamais tomou posição nos extremos do espectro dedireita ou de esquerda. Logo, não resta dúvida, portanto, que o sarneísmo está sedimentado na vida dos maranhenses.

Sarney nunca tomou os adversários como inimigos. Exemplos de Epitácio Cafeteira, Jackson Lago e Flávio Dino – apenas dentro do Maranhão. Isso mostra que, apesar dos confrontos e embates histórico, ele sempre deixou uma porta aberta ao diálogo, à convivência e à pacificação.

Neste momento de definição eleitoral, o candidato do PSD à prefeitura de São Luís, Eduardo Braide aparece nas pesquisas com chance de ser eleito no primeiro turno. Tem adotado a postura de um político ideologicamente centrista. É um sarneísta nato que passou dois anos governando São Luís, no palácio separado da sede do governo “comunista” apenas por um muro.

Não se aproximou do esquerdista Flávio Dino, muito menos do presidente extremista de direita Jair Bolsonaro, ou do petismo de Luiz Inácio Lula da Silva. Será que essa postura explica o seu favoritismo e um índice de aprovação tão significativo?  

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