Motta e Alcolumbre unidos para sitiar o governo Lula
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Faltam 15 meses para as eleições de 2026 e 18 meses para o fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ele já se vê acuado perante o Congresso, dominado pelo Centrão e pelo bolsonarismo, que agem às escâncaras para boicotar as iniciativas que partem do Palácio do Planalto.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (PP), e o do Senado, Davi Alcolumbre (Republicanos), uniram forças em ações para desgastar o governo petista — mesmo com os partidos de ambos compondo a base aliada e ocupando dezenas de cargos na Esplanada. Tal situação não os impede de confrontar o governo, restando a Lula negociar tudo o que o Parlamento impõe ou partir para o contra-ataque, o que pode agravar ainda mais a crise.
Em dobradinha, Motta e Alcolumbre impuseram ao governo petista sua pior derrota em 25 anos. No Congresso e no meio empresarial, as lideranças e os economistas só falam em cortes de gastos por parte do governo, que, por sua vez, tem como principais opções as emendas parlamentares, os supersalários, as renúncias fiscais e os programas sociais.
Vai começar por onde? Enquanto derrubava o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Congresso, em votação relâmpago, criou 18 novas vagas de deputado federal — tudo numa jornada rara, conduzida por Motta e Alcolumbre. Há mais de três décadas não se via algo parecido no Congresso. Foi um duro golpe de R$ 12 bilhões nas receitas do governo, valor esperado para equilibrar as contas públicas em 2025.
A estratégia do Centrão e da bancada bolsonarista é “sangrar” Lula em 2025 para favorecer a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em 2026. A dobradinha Hugo Motta–Alcolumbre não tem limites, numa empreitada que já nem comporta mais a eventual candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Pouco importam as contradições que o Congresso exibe nas redes sociais contra o Brasil, desde que os parlamentares dominem a fabulosa soma de R$ 53 bilhões do orçamento de 2025 em emendas. Até o ministro do STF, Flávio Dino, entrou na linha de fogo dessa guerra política, após assumir o papel de xerife da transparência na aplicação das emendas — muitas vezes sem controle e sem prestação de contas.
A derrubada do decreto presidencial foi um desastre para Lula, que já sabia da derrota iminente, mas não conseguiu impedi-la. Na Câmara, foram 383 votos contra os interesses do governo e apenas 98 a favor. Dois terços dos votos contrários vieram de sete partidos da base governista (União, MDB, PSD, PSB, PV, PP e Republicanos).
No Senado, optou-se por uma votação simbólica, dispensando a presença em plenário para “salvar as aparências”. Para o jornalista e analista político Igor Felippe Santos, a votação demonstra a resistência do Legislativo em aceitar medidas de justiça tributária e evidencia a tentativa de impor uma agenda de cortes sociais.
De fato, o Congresso, com a Câmara ainda sob o comando de Arthur Lira, quer forçar o governo a cortar investimentos em saúde pública e educação — sem admitir, em hipótese alguma, que os mais ricos, privilegiados pelo sistema tributário, paguem mais impostos.
Quando o governo tentou taxar os bilionários, viu o mundo político estremecer as bases do Congresso Nacional. Na verdade, são esses grupos que pressionam nos bastidores para manter privilégios tributários, salários de marajás e outros benefícios. Até a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil provocou um verdadeiro “Deus nos acuda” no Congresso.
Por outro lado, o governo deixou de arrecadar, em 2024, mais de R$ 118,8 bilhões em renúncias fiscais concedidas a empresas de diversos setores — valor que impacta diretamente nas contas públicas, segundo a Receita Federal. Já o jornal O Globo projetou, para 2025, uma elevação dessa dispensa fiscal para R$ 800 bilhões — número que sequer é debatido no Congresso.
A renúncia inclui a desoneração da folha de pagamento e o Perse, entre outros, afetando diretamente a capacidade do governo de investir em serviços públicos e áreas essenciais. Enquanto isso, o Tesouro deve liberar hoje, dia 27, R$ 3 bilhões em emendas parlamentares — dinheiro cuja destinação a população segue sem saber exatamente qual é.