28 de agosto de 2025
DestaquesGeralPolítica

Hugo Motta ativa ‘modo Eduardo Cunha’ e Centrão frita Lula de olho em 2026

O Congresso sequestrou o governo com apoio de um Centrão que já tem lado para a eleição presidencial: o da extrema direita.

O GOVERNO FEDERAL SOFREU SUA MAIOR DERROTA política nesta semana. Não conseguiu aprovar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, o IOF — leia-se imposto dos mais ricos — e se viu mais uma vez nas cordas da luta política depois de ser apunhalado pelas costas.

Após costurar com as lideranças do Congresso um acordo pela aprovação do aumento do IOF, o governo Lula foi atropelado em uma votação surpresa, liderada na calada da noite pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba. Por 383 votos a 98, o decreto que aumentaria o IOF foi revogado pelos deputados.

No Senado, a votação foi simbólica, mas o presidente Davi Alcolumbre, do União Brasil do Amapá, disse em privado que, se houvesse votação, 60 dos 81 senadores teriam aprovado a revogação. O próprio Alcolumbre promulgou a decisão e fez questão de deixar claro que se tratava de uma “derrota para o governo” que foi “construída a várias mãos”.  

Poucos menos de 20 dias antes, em uma noite de domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros ministros do governo se reuniram com os presidentes das casas legislativas e líderes partidários. O encontro ocorreu na casa oficial do presidente da Câmara e terminou pouco antes da meia-noite. 

Ao sair da reunião, Motta exaltou o acordo e disse se tratar de uma “noite histórica”. Em entrevista coletiva ao lado de Haddad e Alcolumbre, o presidente da Câmara festejou a forma como o acordo foi costurado: “Tivemos pela primeira vez uma reunião conjunta, com líderes da Câmara e do Senado e ministros”.

Toda essa empolgação com o acordo que aumentaria o imposto dos ricos não durou muito. Dias depois, Motta passou a dar declarações indicando que a boa relação com o governo em torno do tema havia azedado. Dos 383 votos que derrubaram o decreto, 242 vieram de partidos que têm ministérios no governo Lula. 

Não é novidade que os critérios de governabilidade já não são mais os mesmos. Depois que o orçamento foi sequestrado pelo Congresso, não há mais garantia de que a concessão de cargos ministeriais resultará em votos no legislativo. 

A gestão Lula vem acumulando derrotas acachapantes graças ao apoio dos partidos com os quais está dividindo fatias do governo. Há que se rever os fundamentos do governo de coalizão. Trata-se de uma tarefa complicadíssima. Não há soluções prontas no horizonte. 

É importante lembrar que este não é um governo de esquerda. É um governo formado por uma frente ampla com partidos de centro, direita e esquerda. Este era o único caminho viável para impedir a permanência da extrema direita fascista e golpista no poder e possibilitar alguma governabilidade depois da eleição. A segunda parte não está acontecendo.

O acordo feito na casa de Motta parecia ser um respiro para o governo, mas foi uma breve ilusão. A maneira sórdida e traíra como a votação foi feita soou como uma declaração de guerra ao governo. O fato é que Lula está encalacrado: se conceder ministérios para setores da direita não está rendendo frutos para o governo, retirá-los pode ser ainda pior. 

O Congresso brasileiro, comandado majoritariamente pela direita e extrema direita, sequestrou o governo. Resta saber como Lula governará nesse último ano e meio que resta para o pleito presidencial. O cenário está feio para os governistas. O movimento de Motta e Alcolumbre está claramente condicionado pelas próximas eleições. 

Ficaram evidentes na apunhalada ao governo as digitais do senador Ciro Nogueira (leia-se bolsonarismo), do PP do Piauí. Apenas dois minutos depois de Motta anunciar nas redes sociais que colocaria a votação que derrubou o decreto do IOF em pauta, Ciro Nogueira compartilhou a publicação. O entrosamento é claro. 

Mais em The Intercept Brasil

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *