“Janela” desarrumou bancadas na Câmara
Por Raimundo Borges
O Imparcial – No fechamento da “janela partidária” no Maranhão, ocorrido no último fim de semana, se deu em meio ao fenômeno zoológico popularmente chamado de “a hora de vaca não conhecer bezerro”. A regra da lei que permitiu a vereadores trocarem de partido sem risco de perder o mandato por infidelidade provocou uma debandada em massa dos incomodados em busca de salvação política nas eleições de outubro.
Por exemplo, a Câmara Municipal de São Luís começou esta semana completamente desfigurada de coloração partidária comparada ao que era na semana passada. Dos 31 vereadores sobraram apenas nove nos partidos pelos quais foram eleitos em 2020.
Ficou provado que no Brasil os partidos estão longe de serem como nos Estados Unidos, dos democratas e republicanos se revezando no poder. A cada dois anos que a “janela partidária” se abre para mandatos proporcionais, as ideologias, os programas partidários e as alianças das eleições passadas vão para a lixeira das conveniências.
Dos 31 vereadores da capital, pelo menos 10, liderados pelos presidente da Câmara, Paulo Victor, bateram à porta do PSB, que só tinha um representante. O chamamento do governador Carlos Brandão atraiu 1/3 da Câmara da capital, feito repetido em vários municípios do interior.
Por sua vez, o PSD do prefeito de São Luís Eduardo Braide conseguiu aumentar sua bancada de um para quatro vereadores. Com tantos ganhos nos partidos do governo e da prefeitura, o PDT do senador Weverton Rocha, que comandou a política da capital por 20 anos, foi o que sofreu a maior desfalque.
O PDT tinha três, ficou com apenas um vereador, mesmo assim sem dizer até agora se mantém o ex-vereador Fábio Câmara, oriundo do MDB, na disputa polarizada entre o prefeito Eduardo Braide (PSD) e o deputado Duarte Júnior. Os dois chegaram ao segundo turno em 2020, com Duarte apoiador por Flávio Dino no governo.
O PDT foi o partido que mais elegeu prefeitos em 2016 e 2020 no Maranhão, com 43 em cada pleito. O PL, antes mesmo de ser controlado pelo bolsonarista Valdemar Costa Neto, em 2016 elegeu 42 prefeitos no estado em que o ex-capitão perdeu feio para Fernando Haddad em 2018 e para Lula em 2022.
Em 2024, a polarização está tão acirrada no país entre o atual presidente e seu antecessor, que qualquer projeção sobre as eleição municipais de novembro não passa de mera especulação. No entanto, a “janela partidária” mostrou que a questão ideológica entre esquerda e direita ainda passa longe da realidade política do Maranhão.
Por aqui, o que lastreia a votação municipal são emendas parlamentares, as redes sociais e o governador de plantão. O PCdoB já elegeu 22 prefeitos na gestão de Flávio Dino, assim como o PSDB com o então vice Carlos Brandão, não fez diferente em 2020.
Significa que no Maranhão ainda predomina a velha “ideologia de ocasião”, herdada dos longos períodos do caciquismo e do coronelismo clientelista agindo na pobreza com a mesma força do passado, quando as eleições municipais eram controladas pelos chefe políticos e as urnas de saco, manipuladas pelos cabos eleitorais, adestrados para fazerem e desfazerem resultados.
PÚLULAS POLÍTICAS
Ajuste na justiça
Ao decidir assumir o bolsonarismo da extrema direita e se filiar ao PRTB para disputar a prefeitura de São Luís, o deputado estadual Yglésio Moyses comprou uma encrenca das grandes com o PSB, pelo qual foi eleito em 2022.
Ajuste na justiça (2)
A briga da desfiliação sem justa causa do PSB vai render processo no TER, onde ele vai ter que provar que estava no prazo da janela partidária e saiu para disputar a eleição de prefeito. O PSB enquadrá-lo na lei da infidelidade partidária.
Fraudes no Eja (1)
Por suspeita de fraudes, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou ao Tribunal de Contas do Maranhão (TCE) auditorias em 20 municípios sobre os números do Censo Escolar com inserção de dados falsos, majorados na quantidade de alunos matriculados.
Fraude no Eja (2)
A suspeita recai na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com números manipulados com a finalidade de obter repasses indevidos em recursos do Fundeb. Aliás, esse tipo de fraude é velha conhecida nas auditorias municipais ao longo dos anos.
Tudo em família
Em Caxias, o tempo fechou entre famílias tradicionais na disputa da prefeitura. O prefeito Fábio Gentil apoia o sobrinho Gentil Neto; a deputada Claudia Coutinho está com o sobrinho Daniel Barros; o ex-prefeito Paulo Marinho, com Paulinho Júnior; e Luiza Waquim, com a filha Alycia.