2 de dezembro de 2024
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A melhor frase de Sarney na homenagem da Alema

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Aos 94 anos de uma vida carregada de multiplicidade na longa trajetória, única na história do Brasil, José Sarney permanece com impressionante lucidez e cultivando as suas maiores paixões: a família, a política, a literatura e a simplicidade trazida de berço lá de Pinheiro, principal cidade da baixada maranhense.

Por proposta do deputado Roberto Costa, Sarney recebeu a maior honraria da Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema), Medalha Manuel Beckman, em ato solene com quase 40 deputados e uma legião de admiradores que lotaram as dependências da Casa, presidida por Iracema Vale.

Pisando firme, Sarney foi à tribuna, local que sabe usar com tanta intimidade como a de alguém que  encontra ali a sua maior fonte de inspiração. Desde os tempos de líder estudantil no Liceu Maranhense, passando pela Câmara dos Deputados, Senado Federal, Presidência da República e palcos internacionais, Sarney mantém a mesma desenvoltura como orador.

Sarney recebeu a Medalha Manuel Beckman, proposta pelo deputado Roberto Costa

Na Alema, não foi diferente. Bem à frente da frase de sua autoria colocada na parede do plenário, “Não é democracia sem parlamento livre”, o ex-presidente passou 43 minutos em pé, discursando sobre sua vida política, literária (com mais de 100 livros publicados) e histórias ricamente memorizadas.

Com a filha “mandona” Roseana Sarney a seu lado como guardiã, Sarney disse que o “parlamento é alma da democracia”; que “a missão do político é servir ao povo”; que “felizmente os maus políticos são a minoria”; e que a “memória é a gratidão do coração”.

Porém, a melhor frase do político e escritor José Sarney foi quando afirmou: “Eu, com 94 anos,  tenho o compromisso de acabar os eventuais adversários e preservar os amigos de sempre”. Realmente, quando comemorou o aniversário, em 24 de abril, ele conseguiu reunir as diferentes correntes políticas, econômica e ideológicas do Brasil. Ali estavam pessoas da direita, da esquerda, bolsonaristas, lulistas, Centrão e gente do povo.

Ao ser eleito em outubro de 2021 para a Academia Maranhense de Letras, o então governador Flávio Dino, já filiado ao PSB, contou com o inesperado indispensável empenho de José Sarney, até então tido como seu maior adversário político no Maranhão. Ele chamou vários acadêmicos a sua casa, em Brasília, e pediu voto para Dino.

Sarney, que chegou à AML aos 22 anos, foi responsável pela eleição do adversário, hoje amigos diletos. Ao mesmo tempo o homenageou, com a cadeira 32, que pertenceu a seu pai Sálvio Dino, vítima fatal da covid 19, em 2020. Portanto, é bem provável que Sarney, com quase 80 de política, já esteja sem nenhum adversário a incomodar a sua grandeza política.

Esse fato literário, de conteúdo político, encerrou as divergências entre José Sarney e Flávio Dino e deu uma grande lição ao Brasil, nesses tempos de fundamentalismo insano. Quando disse que vai “acabar com os adversários”, Sarney mandou um recado direto que justifica a sua fama de político pacificador, educado e simples, além da expressão política e literária que representa no Brasil e no mundo, com livros traduzidos em mais de 10 idiomas.

Não sem motivo, Iracema Vale o chamou de “porta-voz da democracia”. Realmente, Sarney como presidente, convocou a Constituinte para fazer a carta de 1988, considerada uma das mais modernas. Tudo sem crise e sem ruptura institucional no Brasil.

Em 2015, pela passagem dos 30 anos da Constituição de 88, Sarney disse à BBC Brasil que,   como o primeiro civil a assumir, em 15 de março de 1985, à Presidência do Brasil, ainda no rescaldo da Ditadura Militar, que o seu papel na transição democrática foi alvo de injustiças.

Criticado por ter tido proximidade com os grupos e o partido que deram suporte à ditadura, o político pinheirense ainda vê sua abertura ao diálogo e capacidade de conciliação como atributos importantes para a concretização do processo de redemocratização do país.

Naquela entrevista ele disse que o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, não fazia sentido. “Dilma é a sacerdotisa do serviço público”. Ele também foi alvo de inúmeras injustiças como presidente, mas continua consciente de seu papel na história.

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