16 de setembro de 2024
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As campanhas e os escândalos de dinheiro errante envolvido

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Campanha eleitoral é um terreno fértil para todos tipos de armações ilimitadas e também para revelações surpreendentes envolvendo atos de corrupção de gestores públicos. No Maranhão, a história política já foi marcada por vários episódios bizarros envolvendo candidatos ao governador e a prefeito. Daí a importância de uma investigação séria, objetiva, corajosa e isenta do caso do Clio do Milhão.

Vários pontos da história estão desatados, num enredo cheio de suspense e indagações sem resposta que não param de circular até no noticiário nacional, além do impacto nas redes sociais, com versões que atendem mais aos interesses eleitorais do que os de caráter puramente policial.

De repente aparece um automóvel popular abandonado no Renascença II, bairro chique de São Luís, com R$ 1,1 milhão no porta-malas. Ao mesmo tempo em que o carro é encontrado, já circulava nas redes sociais imagens do dinheiro e nomes de pessoas ligadas a irmãos do prefeito Eduardo Braide e de sua mãe, já falecida há anos.

O Honda Fit preto está no nome dela, depois de passar por outros proprietários. O material é explosivo para todo tipo de exploração política na esteira da candidatura de Braide à reeleição. Significa que a Polícia Civil do Maranhão está diante de um caso policial, com repercussão política.

Ao quebrar o silêncio e falar sobre o caso, Braide disse que “quem não deve não teme”. Negou qualquer envolvimento pessoal e pediu pressa nas investigações da Polícia, sem, no entanto, deixar patenteado sua indignação por ver o nome da mãe como ex-proprietária do Clio. Como é provável que as investigações não sigam tão apressadas, os passos até aqui dados indicam que o Clio foi deixado de forma deliberada e com a dinheirama visível aos transeuntes.

No porta-malas de vidro transparente, o que não é normal. E que o carro teria passado mais de uma semana abandonado com tanto dinheiro dentro, sem que o dono se preocupasse em buscá-lo. Aí está o centro nevrálgico desse mistério. É preciso que a Polícia faça as ligações ponto por ponto do enredo, próprio de filme de suspense.

Braide garante não ter nada a ver com o caso e quer vê-lo o mais cedo possível resolvido, já que a campanha eleitoral está apenas começando oficialmente. Ele sabe o quanto essa história cabeluda tem enorme potencial para atingir seu projeto de reeleição. O fato faz lembrar o famoso “Caso Reis Pacheco”, ocorrido na campanha eleitoral de governador em 1994, entre Roseana Sarney e Epitácio Cafeteira.

Cafeteira liderava as pesquisas e Roseana o seguia nem de tão perto. De repente, surgiu o “assassinato” do ex-funcionário da Vale, Raimundo Reis Pacheco, o motorista que se chocou com o bugre do vereador Hilton Rodrigues, sogro de Cafeteira, e o matou num acidente perto da Praia do Olho d’Água, em São Luís.  

O noticiário dava Cafeteira como mandate da morte de Reis Pacheco, que estava desaparecido. No entanto, investigações dos deputados Aderson Lago e Juarez Medeiros, vice na chapa de Cafeteira, localizaram Reis Pacheco, vivinho da Silva, trabalhando em Dourado, no Projeto Jari, interior do Pará. A farsa do “assassinato” de Reis Pacheco teria tido a participação do advogado Miguel Cavalcante que, no entanto, sempre negou que soubesse que a “morte” era uma farsa.

Seja como for, Roseana aparecia com mais de 12 pontos nas pesquisas atrás de Cafeteira e acabou ganhando no 20 turno, por uma diferença mínima. Esse caso foi lembrado na campanha de 2018, quando surgiu em vídeo na internet, no qual um gangster do PCC em Pedrinhas acusava o candidato a reeleição Flávio Dino (PCdoB), de comandar uma quadrilha especializada em assalto a bancos e tráfico de drogas. No entanto, Dino ganhou no 1º turno.

Na disputa da prefeitura de São Luís em 1992, o candidato do PDT Jackson Lago foi acusado de tráfico de drogas. Um Helicóptero da campanha teria sido encontrado abarrotado de cocaína, numa armação própria de campanha eleitoral. Também ocorreu um escândalo com José Reinaldo Tavares em 2002, candidato ao governo. Um avião abarrotado de dinheiro foi apreendido pela Polícia Federal na véspera da eleição, com um coronel da Polícia militar. Porém, o fato não o impediu de ser eleito. Portanto, o chamado “Clio do Milhão” de agora não deixa de fazer parte desse rosário de crimes políticos em campanhas no Maranhão.

Outro caso foi a famosa operação Gran Ville, da PF, em 2002, que tirou Roseana Sarney da disputa presidencial quando ela liderava as pesquisas. Havia R$ 1,3 milhão no prédio da empresa Lunus, do marido da pré-candidata no mesmo Renascença em São Luís.

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