11 de fevereiro de 2025
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Espetáculo de bandidagem atinge arte do circo no MA

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Encontrar um circo operando dentro de uma metrópole ou em cidadezinhas do interior do Brasil é antes de tudo um privilégio poder assistir a essa forma de arte tão autêntica, bela e respeitada, pela sua resistência em mais de quatro mil anos de história.

A arte circense não tem pátria, não tem nacionalidade, não tem língua e não tem ideologia política. É a pura arte da humanidade desde as civilizações da antiguidade na China, na Grécia, no antigo Egito ou na Índia. Sua importância é tamanha que o Circos Máximo, criado na antiga Roma, foi destruído por um incêndio e após a reconstrução, transformada no Coliseu de Roma, o monumento mais visitado, estudado e conhecido no mundo todo.

No último fim de semana, o circo estacionado na cidade de Central do Maranhão, 189 KM de São Luís, na Baixada Maranhense, após encerrar seu espetáculo, foi atacado por um bando de marginais violentos. Além de roubarem tudo que puderam levar, ainda estupraram uma artista na frente de sua filha de onze anos de demais familiares.

Uma barbaridade que virou notícia nacional, mobilizou as Policias Militar e Civil e mereceu condenação do governador Carlos Brandão e da Secretaria da Mulher. A insanidade do bando recebeu a atenção total das polícias que já prenderam três dos cinco marginais e estão em busca dos dois que conseguiram escapar, mas estão devidamente identificados.

Se não bastasse os atos bárbaros praticados contra a família circense, o deputado estadual do Maranhão, Cláudio Cunha, do PL, gravou um vídeo em que destaca a ação da Polícia por desvendar o ataque ao circo, porém, pisou na bola ao classificar de “sensacionalista” a cobertura que a imprensa deu sobre o episódio.

É uma prova de que tem ocasião em que ficar de boca fechada é um gesto grandioso. Em outros, falar bobagem só serve para realçar o tamanho da ignorância do falador. Ao condenar a divulgação dos absurdos no circo em Central, o deputado perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado, por não compreender o papel social do jornalismo.

Hoje, o estuporo é crime hediondo, graças ao aperfeiçoamento do Código Penal ao longo dos últimos anos por pressão social, principalmente, das mulheres. Até a sua denominação foi alterada, de “crime contra os costumes” para crime de estupro (lei 12.015/2009). Fala ainda de crime contra a liberdade sexual, constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou praticar com outro ato “libidinoso”.

A prisão vai de seis a 10 anos, em qualquer modalidade desse crime hediondo (lei 8.072). a violência deixou de ser “contra a mulher” e passou a ser “contra alguém” – homem ou mulher. Ocorreu até a fusão dos crime de estupro com o de atentando violento ao pudor.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chama a atenção para um problema crítico no Brasil e que afeta principalmente as mulheres: o número estimado de casos de estupro no país em 2023 foi de 822 mil, o equivalente a dois por minuto.

Desse total, apenas 8,2% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de saúde. Além da impunidade, muitas das vítimas de estupro ficam desatendidas em termos de saúde. E os autores do estudo ressaltam que a violência sexual frequentemente está associada a depressão, ansiedade, impulsividade, distúrbios sexuais e de humor. 

Os estupros no Brasil aumentaram 6,5% no ano passado em comparação a 2022, com uma média de um caso a cada seis minutos, enquanto os homicídios diminuíram pelo terceiro ano consecutivo. O país registrou um recorde de casos de estupros, desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) começou a coletar esses dados em 2011 a partir dos registros policiais.

É uma situação dramática que, pela intensidade, parece que não basta apenas endurecer as regras punitivas contra os criminosos.Trata-se de uma violência que ninguém pode banalizar com visão machista que empregna a cultura brasileira, principalmente em relação à mulher.

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