19 de abril de 2025
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Guerra do Vietnã: os 50 anos do fim conflito armado que mudou os EUA

Fim da Guerra do Vietnã, em abril de 1975, acabaria por unificar o país asiático, até então dividido, e também por mudar para sempre os Estados Unidos.

Do telhado da embaixada dos Estados Unidos em Saigon, capital do Vietnã do Sul, o sargento Terry Bennington pegou o rádio e ordenou ao seu pessoal que baixasse a bandeira e a encontrá-lo para esperarem o helicóptero. Aqueles eram os últimos onze militares norte-americanos no Vietnã. Uma hora se passou, duas horas… e nada. Até que começaram a ver norte-vietnamitas subindo a rua. Eles sabiam que, se fossem pegos, não sairiam vivos dali – mas também não se renderiam, e lutariam até tombar.

“Quando estávamos nos preparando para abrir fogo, vimos um ponto bem longe e, conforme foi se aproximando, vimos que era um helicóptero. De repente percebemos que tínhamos uma chance de sair dali. Ficamos lá por tanto tempo, que fiz muitas promessas a Deus. E ele me atendeu”, conta Terry, sobre os momentos finais da participação norte-americana na Guerra do Vietnã, ocorrida entre 1955 e 1975.

O depoimento do militar faz parte da série documental Vietnã: A Guerra Que Mudou os EUA, recém-lançada mundialmente pelo Apple TV+, onde ficará disponível de forma permanente, para marcar os 50 anos do fim do conflito.

Em seis episódios, com direção de Rob Coldstream e a participação especial e roteiro do veterano desta guerra, Bill Broyes, a obra explora o efeito que um dos acontecimentos mais controversos da história dos EUA teve sobre o povo do país. A ideia, segundo eles, é mostrar a transformação do entusiasmo confiante em relação à guerra até, uma década depois, o país se modificar profundamente e para sempre.

Já no Vietnã, que se encontrava em conflagração pelo menos desde 1940, quando o Japão invadiu a então colônia francesa da Indochina, a queda de Saigon marcou o recomeço de um país, agora, unificado — para os vietnamitas, aliás, este conflito é conhecido como “A Guerra de Resistência contra a América”. Ou seja, contra um dos grandes vencedores da Segunda Guerra, colocando um fim na sensação de invencibilidade que os EUA adquiriram em 1945.

Ainda que tenham vivido outros embates nas últimas décadas, nenhum se equivale às consequências dos dez anos de presença maciça norte-americana nas selvas do sudeste asiático. Isso porque, à medida que as batalhas eram transmitidas na televisão dia após dia, protestos generalizados pelas ruas dos EUA surgiam contra o conflito, levando a uma mudança fundamental na identidade nacional do país e também a dilemas sobre o que foi a Guerra do Vietnã.

Protesto de jovens americanos pelo fim da Guerra do Vietnã / Crédito: Getty Images

Em uma palavra, de acordo com o historiador militar britânico sir Max Hastings, ela foi uma tragédia. Para compreender essa história e seus desdobramentos, partimos de tempos longínquos, de quando o Vietnã ainda era parte da Indochina, uma colônia francesa.

Luta por independência

Os primeiros contatos entre vietnamitas e franceses começaram ainda no século 17, por meio de missões jesuíticas no Vietnã lideradas pelo padre francês Alexandre de Rhodes, SJ. Durante boa parte do século seguinte, a relação entre os dois povos foi majoritariamente econômica, focada em trocas comerciais – concomitante, continuava a ação dos missionários católicos.

O cenário começou a mudar em 1787, quando o bispo Pierre Pigneau de Behaine, pediu que o governo francês organizasse uma expedição militar para ajudar o herdeiro ao trono do Vietnã, Gia Long (nascido Nguyễn Ánh), a retomar suas terras e unificar o país. As tropas francesas atenderam ao pedido e lutaram pelo imperador até 1802. A partir daí, a presença da França no país asiático seria cada vez maior, transformando o Vietnã em parte de sua colônia na região.

“No século 19, a França conquistou o Vietnã, o Camboja e o Laos e criou a colônia da Indochina Francesa, dividindo o Vietnã em três partes: Tonkin, Annam e Cochinchina. Reprimindo revoltas nacionalistas, conseguiram manter o domínio colonial no país até a Segunda Guerra, quando a Indochina foi ocupada pelos japoneses”, descrevem os autores de A Guerra do Vietnã: A História Ilustrada Definitiva.

Na luta por sua independência da França, que se esforçou para retomar o controle de sua colônia, e do Japão, o movimento revolucionário Viet Minh, fundado em 1941 por Ho Chi Minh, líder do norte, entrou em conflito contra os franceses e, ao derrotá-los, deu fim à Primeira Guerra da Indochina.

Em 1954, na Conferência de Genebra, na Suíça, o Vietnã se tornou independente, porém, na forma de dois Estados: o Vietnã do Norte, sob domínio comunista, e o Vietnã do Sul, sob a égide capitalista.

Com os franceses se retirando, os norte-americanos começaram a tomar seu lugar, enviando as primeiras unidades do Grupo Consultivo de Assistência Militar, conhecido como consultores militares, para o Vietnã do Sul em 1º de novembro de 1955 – data que marca o “início formal” da “guerra americana” em terras vietnamitas.

Legado da 2ª Guerra

No filme Apocalypse Now Redux, a versão estendida do diretor Francis Ford Coppola, há um momento em que o personagem de Martin Sheen, o capitão Willard, conversa com colonos franceses que permaneceram em sua plantação após o fim da Guerra da Indochina. Ao ser indagado pelo oficial norte-americano sobre quando deixariam o país, um deles replica, dizendo que “nunca sairiam”.

Na sequência, o chefe da família emenda: “Foram os EUA que criaram o Viet Minh em 1945. Agora vocês tomaram o lugar dos franceses. O que podem fazer? Nada, absolutamente nada”. A cena faz referência ao fato de os norte-americanos armarem os militantes vietnamitas na fase final da Segunda Guerra.

Apesar de inicialmente simpáticos à causa do Vietnã do Norte, com a derrota do Japão, os EUA perceberam o que haviam feito. E depois, com a retirada dos franceses em 1954, a administração do então presidente dos EUA, Dwight Eisenhower, decidiu que era hora de “intervir” no Vietnã do Sul.

Naquele ano, com a Guerra da Coreia recém-paralisada e a Guerra Fria a todo vapor, imperava na Casa Branca a Teoria do Dominó, que pautaria boa parte da ação externa dos EUA até 1990. Ela pregava que, “se um país, ou região, caísse para o comunismo, os países com os quais esse fizesse fronteira cairiam em seguida”.

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