Brasil na biqueira da guerra de Trump e na batalha da anistia
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Enquanto o mundo passou a viver a guerra comercial desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump contra o resto do mundo, no Brasil a batalha que se trava no momento não tem nada a ver com blusinhas da China, Petróleo dos Estados Unidos ou para quem o Brasil vai exportar a supersafra de 322,3 milhões de toneladas de grãos em 2025.
A batalha que se trava na capital da República é sobre o PL da Anistia aos 800 golpistas do 08 de janeiro já condenados pelo Supremo Tribunal Federal, de um total de dois mil investigados. O Partido Liberal, que tem o ex-presidente Jair Bolsonaro como principal líder e interessado na anistia, tem 92 deputados na Câmara, dos quais, quatro não assinaram o pedido de urgência, que o presidente da Câmara Hugo Mota se recusa a pautar.
Na guerra de apoiadores de golpistas condenados pela Justiça e o bolsonarismo na Câmara, o Maranhão está dando sua contribuição. Pelo menos sete deputados assinaram a tramitação do projeto em regime de urgência: Aluísio Mendes (REP), Josivaldo JP (PSD), Allan Garcez, Detinha, Júnior Lourenço, Pastor Gil e Josimar de Maranhãozinho, estes do PL, mas nem todos bolsonaristas.
Alguns chegam a ter relações amistosas tanto com o governo Lula quanto o de Carlos Brandão. Outros que também assinaram sem convicção, podem até voltar atrás, dependendo das negociações que já estão em curso dentro e fora do Congresso. Sinal de que muito “bacalhau” ainda vai incrementar o ‘jejum’ da semana santa.
São deputados e gestores municipais que não ecoam a tamborilada dos seguidores de Jair Bolsonaro. Há uma vocalização na defesa da matéria dentro do PL, mas está longe de alcançar unanimidade. Até porque, quando há uma discussão sobre a eventual candidatura de Bolsonaro em 2026,o Centrão tira o corpo fora desse projeto e focaliza outras alternativas, como Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO) e Eduardo Leite (RS).
É nesse diapasão que se enquadra Josimar e Detinha, dono de uma verdadeira malha fina na época de capturar eleitores em dezenas de municípios maranhensesem que detêm o controle de prefeituras.
O movimento pela anistia é liderado pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), cujo fundamento que defende se resume em uma “pauta de justiça, humanidades e pacificação nacional”. Até o ex-presidente José Sarney, do posto de categorizado observador da política brasileira, tira o corpo fora dessa instigante discussão sobre a trama golpista.
Ouvido sobre como vê o projeto da anistia, o ex-presidente, fiador e condutor da transição democrática brasileira em 1985, preferiu não entrar na polêmica. Apenas defendeu a união política do país, como se isso fosse possível nessa etapa de radicalização extrema, no modo alimentado por seitas fundamentalistas.
Embora o líder Sóstenes Cavalcante garanta haver conseguido reunir o número mínimo de 257 assinaturas para propor a emergência na tramitação do projeto para livrar os golpistas do rigor da lei, ele não tem certeza se o presidente Hugo Mota esteja disposto a correr o risco de ceder a essas pressões. Seria colocar diretamente na votação plenária, sem passar pelas comissões temáticas.
Até o STF ficou irritado com uma declaração da ministra das Relações Institucionais Gleisi Hoffman, ao admitir“ ser defensável do ponto de vista de alguns” aceitar a emergência. Significa que o jogo é pesado, com o Planalto mapeando quem apoia anistiar golpista na base do governo e o que tais parlamentares estão querendo agindo assim.
Em manifesto, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) abriu uma campanha sob o lema “Anistia não, golpistas na prisão!”, em que pede a punição dos que tentaram dar golpe de estado em 08 de janeiro. A entidade propõe mobilização nacional, defendida por movimentos populares, sociais e sindicais do Brasil.
Tânia Oliveira, da executiva da entidade, diz que a tentativa de golpe foi fruto de uma organização criminosa que tinha como objetivo destruir a democracia, após perder as eleições de 2022. A trama teve auxílio material, financeiro e intelectual dos denunciados e condenados pelo STF. Portanto, não havia nenhum inocente, muito menos coitadinhos que foram apenas conhecer a Praça dos Três Poderes.