O barulho dos desertores da base aliada de Brandão
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Nem tão católico, nem tão evangélico; nem tanto direita, tampouco esquerda. Carlos Brandão, 66, é um sertanejo de Colinas, região da Chapada do Médio Itapecuru, da qual nunca perdeu o vínculo político até os dias de hoje, como governador do Maranhão. Porém, sua longa carreira política tem se desenvolvido sempre pelo centro do poder estadual, desde quando o pai, médico Carlos Orleans Brandão, foi secretário de Saúde do governo Nunes Freire.
E ele cuidou de se formar em Medicina Veterinária, dentro da lógica de atender às demandas da família de pecuaristas. Agora, quando falta menos de um ano para se desincompatibilizar do governo, aos poucos, Brandão vai caindo na realidade que o envolve.
Ele conhece como poucos as entranhas do poder do Maranhão de antes, durante e depois de Flávio Dino, com quem ganhou três eleições seguidas no primeiro turno. Agora, como o líder político do Maranhão, vive com um olho no calendário eleitoral e outro no seu próprio futuro.
Como a tendência que se impõe é ainda paradoxal sobre apoiar o vice Felipe Camarão para sucedê-lo, ou optar por traçar outro rumo, Brandão não quer estragar seu futuro político por impulso ou por imprecaução. Tudo indica que ele vai cumprir o compromisso firmado em 2022 com Flávio Dino, de disputar o Senado em 2026 e apoiar o vice Felipe Camarão, do PT, na corrida ao Palácio dos Leões.
Esta semana, ao participar de inaugurações de obras em parceria com o prefeito de Paço do Lumiar, Fred Campos, Brandão “atualizou” o tamanho da bancada de apoio na Assembleia Legislativa, sem demonstrar um pingo de preocupação. Pelas suas contas, já não tem mais a unanimidade dos 42 deputados – o que é bom para a democracia.
“Começaram a aparecer uns ‘desertorezinhos’.” Mas se conforma com a grande maioria que permanece na base, algo acima de 35 parlamentares. “Afinal, nem Jesus Cristo teve unanimidade”, arrematou, em tom bem-humorado. E é fácil até identificá-los: Othelino Neto (SD), Fernando Braide (PSD), Carlos Lula, Ricardo Rios, Francisco Nagib (PSB); Rodrigo Lago e Júlio Mendonça (PCdoB).
No entanto, essa oposição não é nenhuma fortaleza ideológica. Na hora de a vaca não conhecer bezerro e de o jacaré nadar de costas, o que vai ter de gente mudando de lado é bom nem estar por perto.
No entanto, Othelino Neto, Braide, Lula e Lago já fazem uma enorme zoada que incomoda sim o Palácio dos Leões, não apenas pelos discursos inflamados, mas também pela judicialização de vários temas relevantes, como as indicações para desembargador do TJMA e para o Tribunal de Contas do Estado. Realmente, a base diminuiu pouco no volume, mas está longe de ser considerada algo que desmanche o cenário de 2026.
Não sem motivo, a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a ação do SD, que discute a regra de desempate na eleição da Assembleia Legislativa, é um assunto esperado com muita expectativa no Parlamento estadual e no Poder Executivo. O julgamento ocorrerá na última semana deste mês pelo plenário virtual do STF – uma decisão que vai virar jurisprudência para balizar todas as assembleias, câmaras municipais, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.
Apesar do otimismo que domina o entorno de Iracema Vale e de Brandão, há um bordão antigo que ensina: “De cabeça de juiz, barriga de grávida e bunda de bebê, ninguém nunca sabe o que vai sair.”
O governador Brandão está no meio de um quebra-cabeça: sua decisão de disputar o Senado e apoiar Felipe Camarão (PT) tem relação direta com a posição de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputar um novo mandato.
Essa decisão, por sua vez, tem muito a ver com o desfecho da PEC da Anistia, que foi protocolada na Câmara pelo PL, esta semana, para livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro de eventual prisão por coordenar o projeto de Estado em 8 de janeiro, que deu errado; e ainda com a forma como a economia brasileira estará no próximo ano, impactada pelo tarifaço de Donald Trump. Sem dúvida, será uma eleição das mais complexas da história do Brasil, com consequências diretas, também, nas disputas estaduais pelo país afora.