Brandão e Dino só se falam por “recados”
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Como tudo na vida, a política também tem seu lado burlesco. Os políticos não param de criar situações e fatos que levam as pessoas a desacreditarem na política e neles próprios.
A briga que eclodiu, desde o começo de 2025, ao redor do ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino e o governador Carlos Brandão nem de longe espelha a trajetória que os dois fizeram juntos, quando provocaram a maior mudança na história política do Maranhão, na eleição de 2014, como companheiros de chapa. Foi a primeira vez que um candidato não apoiado pelo governo chegou ao Palácio dos Leões e a segunda vez que alguém apoiado pela família Sarney foi derrotado – Edson Lobão Filho.
Os oito anos seguintes foram de perfeita harmonia entre Flávio Dino (PCdoB) à frente do governo e Carlos Brandão (PSDB-PRB) como um vice de confiança e participativo nas ações do governo. Quando Dino renunciou ao mandato em abril de 2022 e passou a faixa ao substituto Carlos Brandão, foi realizada nova campanha mais bem-sucedida da dupla.
Brandão foi eleito no primeiro turno e Dino fez novamente história ao conquistar o mandato de senador com recorde de 2,1 milhões de votos. Em 14 de setembro daquele ano, durante a campanha, Brandão postou em suas redes sociais: “Brandão é Dino e Dino é Brandão. Uma parceria que deu certo e fez o Maranhão mudar sua realidade”.
O tempo se encarregou de estrangular a “parceria que deu certo”. Hoje Brandão e Dino estão de relações cortadas – como dois estranhos – e o entorno se encarrega de abanar a fogueira que transforma em cinzas o pedaço mais robusto e emocionante da história política do Maranhão. A comunicação entre os dois é cifrada, como “recados” – ou de “sinais”, como prefere o governador.
Esta semana, em aula magna na UNDB, Flávio Dino decidiu brincar de política. Sugeriu, rindo, uma chapa “imbatível” para governador em 2026, liderada pelo atual vice-governador Felipe Camarão, tendo a professora de Direito Teresa Helena Barros como vice. Brandão interpretou como um recado e rebateu no mesmo modo: “Esse não é o momento de disputa política. É o momento de governar”.
A tal fala de Dino rapidamente repercutiu no mundo bolsonarista em Brasília, que, de pronto, reagiu. O deputado Nikolas Ferreira prometeu propor, imediatamente, um pedido de impeachment, no Senado e no CNJ, contra o ministro Flávio Dino. Desde quando estava no Palácio dos Leões, principalmente durante a pandemia da covid-19, Dino vivia às turras com o então presidente da República, Jair Bolsonaro.
Como ministro da Justiça, ele foi peça-chave nos processos contra os bolsonaristas e o próprio Bolsonaro sobre a tentativa de golpe de Estado que levaram centenas deles à prisão e à condenação. Dino é odiado pela extrema-direita também por sua ação contra a farra das “emendas pix”.
O projeto (302/2023) do deputado bolsonarista Capitão Alden (PL-BA) tramita na Câmara, com o objetivo de proibir os ministros do Supremo Tribunal Federal de fazerem comentários ou declarações de caráter político-ideológico em qualquer meio de comunicação.
Por sua vez, a cientista política e jornalista Grazielle Albuquerque, autora do livro “Da lei aos desejos: o agendamento estratégico do STF”, questiona como a corte se organizou ao longo dos anos para ocupar espaços políticos e midiáticos, com adversidades dessa superexposição. A invasão do órgão, em 8 de janeiro de 2023, é uma delas. “É preciso voltar para um lugar onde não se enxergue tanto o Supremo como órgão político”, adverte Albuquerque.
Portanto, não parece ser fácil para os ministros da Suprema Corte se comportarem totalmente alheios às ações que chegam às suas mãos recheadas de conteúdos políticos, sem que eles possam se manifestar politicamente. Os ministros do STF, ao decidirem casos e interpretar a Constituição, inevitavelmente influenciam a política do país.
Essa influência é inerente à função de julgar questões que impactam a vida dos cidadãos, respaldada na Carta Magna e na própria organização do Estado. Porém, os ministros podem evitar julgar dentro de uma abordagem político-partidária, ou fazer isso de forma explícita, sem a imparcialidade.