“Foi a juventude que me trouxe até aqui “, diz Gilberto Gil
Em entrevista exclusiva ao Correio, Gilberto Gil fala sobre a última grande turnê Tempo Rei, do show que fará em Brasília, em 7 de junho, e sobre a velhice. “Ela tem seu capricho, seu modo de ser. Acho que o tempo rei significa uma adoção natural da condição do homem velho”.
Gilberto Passos Gil Moreira não perdeu a voz suave, com um leve sotaque baiano. Perto de completar 83 anos, encara a velhice com classe e poesia. “Foi a juventude que me trouxe até aqui”, disse ao Correio, para anunciar o show da megaturnê Tempo Rei, em 7 de junho, no Mané Garrincha. Sim, será a última grande excursão musical de Gilberto Gil, mas ele revela que se manterá próximo ao público. “Acho que essa coisa do cultivo doméstico da música, com meu violão, com a escuta das gravações, dos discos… Tudo isso vai continuar. É um hábito”, afirmou.

Por que Tempo Rei, título de uma de suas canções mais fortes e impactantes, dá nome a essa última turnê?
O tempo tem sido um tema muito recorrente, muito estruturante no meu trabalho. Guia um pouco meu modo de entender a existência no mundo e todas as questões relativas à vida, à morte… À duração das coisas. Enfim, o tempo é um dado importante no meu trabalho. E como essa turnê tem a intenção de ser um final de um ciclo mais intensivo, com excursões longas, viagens e trabalho muito intenso… (Esse título) foi sugestão de alguém. Na verdade, não foi nem uma iniciativa minha dar esse nome à turnê, mas achei interessante e acabei adotando o tema Tempo Rei, por causa dessas razões que te elenquei.
Qual a expectativa para o show em Brasília, cidade onde você tem boas lembranças e bons amigos?
Vou fazer um show num estádio grande, o Mané Garrincha. De todos da turnê, é o maior. Isso é um desafio para mim e para toda a montagem do espetáculo, que levou em consideração a questão das dimensões do palco onde vamos nos apresentar. Tenho uma expectativa muito boa. Brasília é conhecida pela tradição de acolhimento a shows, espetáculos em várias dimensões, como ao ar livre, em ginásio ou em teatros. Vamos ver como é que nós e o público nos comportamos (risos).
Você encerra uma trajetória de shows com esse megaespetáculo, Tempo Rei, recebendo estádios lotados pelo país. Não dá vontade de continuar?
Vontade até dá (risos), mas tenho que levar em consideração essa questão do tempo, da idade, enfim, do esforço que é, para mim, pessoalmente, e para todos da equipe, que é fazer uma turnê desse tamanho. A minha expectativa é de que, na medida do possível, continue encontrando públicos em situações variadas, mas em escalas mais modestas, não mais nesse porte de excursão.
Assista à entrevista:
Tem alguma surpresa para Brasília, nesse show?
Talvez… Acho que sim… Talvez tenha (risos). Temos tido, em vários lugares que apresentamos, uma surpresa. Possivelmente, em Brasília também.
Uma dessas surpresas aconteceu em São Paulo, com Preta Gil cantando com você, o que emocionou o Brasil. Por favor, fale um pouco dessa alegria de ver Preta ao seu lado num momento tão representativo…
Preta é uma menina muito extrovertida, muito aberta, alegre, cheia de energia… E escolheu, logo muito cedo, bem menina ainda, escolheu, por força do ambiente em que vivia, com uma carga de presença musical muito grande… Da tia, dos tios, dos parentes, da madrinha e da casa cheia de música o tempo todo… Ela escolheu a carreira de cantora. Firmou-se. Criou um gosto grande pela diversidade, pelo ecletismo, pela coisa de juntar vários modos de expressão, de canto, de gêneros musicais, e tudo mais. Ela é essa personalidade, muito expressiva. E tem demonstrado nesse momento da doença (Preta está em tratamento nos Estados Unidos contra um câncer), uma grandeza de alma, de modo de compreender a existência, que é exemplar. E tem recebido uma resposta muito grande. É imenso o carinho, o acolhimento que ela vem recebendo no Brasil inteiro, vindo de todas as gerações. São manifestações muito eloquentes o tempo todo na torcida por ela. Isso também vai para a conta dela (risos).