27 de julho de 2024
DestaquesGeral

Por que o Rio Grande do Sul está tão exposto às catástrofes

Marcado por enchentes sucessivas, estado é afetado por eventos extremos e negacionismo do clima na gestão pública, dizem especialistas à DW. Atual cheia histórica é atribuída a sobreposição de fenômenos climáticos.

Ainda não se sabe a dimensão da tragédia provocada pelas inundações históricas que começaram na região central do Rio Grande do Sul no início da semana e que chegam à capital, Porto Alegre. Equipes de resgate não conseguiram adentrar muitos dos locais atingidos, afirma a Defesa Civil estadual à DW.

Até este sábado (04/05), mais de 57 mortes em decorrência das enchentes haviam sido confirmadas pela Defesa Civil. Outros 67 seguem desaparecidos. Nos últimos dias, metade da chuva prevista para todo o ano de 2024 caiu no estado, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Em Porto Alegre, voluntários recebem quem chega das ilhas do entorno. Embarcações transportaram para a capital mais de 500 pessoas evacuadas. Um centro de treinamento esportivo se transformou em abrigo provisório.

“A situação está terrível. A gente está sem estrutura, no escuro praticamente. Tem muita gente vindo para cá”, diz à DW Paula Brust, uma das voluntárias que acolhem quem chega.

Para quem atua no monitoramento da situação, a perplexidade e o cansaço pelas horas ininterruptas de trabalho são grandes.

“Estamos ainda sem acreditar no volume de chuvas registrado. Nós pensamos até, inicialmente, que nossos equipamentos estavam com defeito”, resume Franco Buffon, superintendente da região Sul do SGB.

A situação é considerada tão grave que, mesmo se não chovesse mais nos próximos dias, o quadro seguiria muito dramático. A previsão é que mais chuvas atinjam a região.

Fuga e choque

Em Porto Alegre, o nível do Lago Guaíba atingiu marca recorde, superando os 5 metros neste sábado, nível acima do da cheia histórica de 1941. Naquele ano, a água atingiu a marca de 4,76 metros e deixou 25% da população da cidade desabrigada.

O Guaíba, que até cruzar a capital é chamado de Rio Jacuí, recebe toda a água que cai no centro do estado. Porto Alegre é a última cidade do percurso até o seu deságue no Atlântico.

Em municípios menores ao longo de rios que fazem parte da mesma bacia hidrográfica, comunidades inteiras parecem ter sido varridas do mapa. Em Estrela, o Rio Taquari chegou à marca recorde de 33 metros. Isso acontece apenas seis meses depois de ele ter alcançado sua cota máxima, que era de 29,53 metros. Quando a água ultrapassa os 19 metros, o rio extravasa e atinge casas e uma indústria próxima.

Vista aérea da cidade de Porto Alegre alagada com águas do Lago Guaíba
Nível do Lago Guaíba atingiu maior nível em 83 anos e invadiu centro de Porto AlegreFoto: Gilvan Rocha/Agencia Brasil/picture alliance

Com a catástrofe, muitos equipamentos que fazem medição se perderam. Buffon, do SGB, conta que postes instalados às margens dos rios provavelmente foram levados pela enxurrada, e sensores que ficam em contato com a água são atingidos por grandes objetos que vão parar na água: rochas, veículos, escombros de casas.

Em São Leopoldo, banhada pelo Rio dos Sinos, também parte da bacia hidrográfica do Guaíba, famílias que sempre acreditaram morar em bairros seguros deixam suas casas. A bióloga Daiana Schwengber correu de Porto Alegre para ajudar os pais no interior e agora todos estão abrigados na casa de amigos.

“A água subiu muito rápido. Começamos a bater palma em frente à casa das pessoas para ajudar a Defesa Civil a alertar as pessoas para que todos saíssem. Foi muito triste. Muitas pessoas idosas, todos chocados”, relatou Schwengber à DW sobre a situação em São Leopoldo.

Mais em DW

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *