11 de outubro de 2024
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O depoimento do marido que mandou 72 homens estuprarem sua esposa dopada

Revista Fórum – Dominique Pélicot falou nesta terça (17) no tribunal. A frieza, e de certa forma a ‘sinceridade’ dele, chocaram ainda mais a opinião pública mundial.

A França assiste atordoada, há 11 dias, ao julgamento de um caso bárbaro que veio a público em 2020, e que agora caminha para seus atos de encerramento. É o julgamento de Dominique Pélicot, hoje com 71 anos, um aposentado que durante anos, pelo menos entre 2011 e 2020, drogava sua esposa para que ela ficasse inconsciente e então “recrutava” dezenas de homens para estuprá-la de forma grupal, filmando as violações, que acabaram rendendo pelo menos quatro ISTs à vítima.

Na primeira semana do julgamento, Gisèle resolveu mostrar seu rosto e sua identidade e anunciou ao planeta que “não tinha do que se envergonhar”, dizendo que a vergonha “era toda do ex-marido”. Ela deu fortes entrevistas para a imprensa que cobre o desfecho do brutal episódio.

As autoridades francesas conseguiram contar pelo menos 72 homens que teriam estuprado Gisèle Pélicot, mas 22 não puderam ser identificados. Os outros 50, assim como Dominique, se encontram neste momento no banco dos réus, num julgamento que teve início no dia 6 deste mês, na cidade de Avignon, no sul do país. O bárbaro crime foi descoberto por acaso, após Dominique Pélicot ir a um shopping center, há quatro anos, e começar a filmar mulheres por debaixo de suas saias na escada rolante. Notado e denunciado no estabelecimento, ele acabou detido pela polícia, que no ato de lavrar a ocorrência na delegacia conseguiu acessar o celular usado pelo acusado, encontrando centenas de arquivos, especialmente de vídeo, nos quais uma mulher desacordada aparecida sofrendo inúmeros estupros coletivos. Era sua esposa, Gisèle.

A Justiça da França não permitiu sequer fotos dos réus, sobretudo de Dominique, muito menos filmagens. Ele prestou depoimento nesta terça-feira (17) diante do juiz, promotores e advogados que atuam no caso, e sua frieza e ‘sinceridade’ chocaram ainda mais a opinião pública mundo afora. Os trechos de sua oitiva revelados por testemunhas que acompanham as sessões judiciais na plateia são inacreditáveis.

“Sou um estuprador como os outros nesta sala”, afirmou com voz firme Dominique, sinalizando para os outros 50 réus acusados de violentar sua então mulher, que também são julgados no mesmo local. “Todos sabiam, não podem dizer o contrário”, acrescentou ele, confirmando o que os promotores vêm defendendo desde o início: ninguém estava ali achando que era uma “fantasia sexual”.

“Ela não merecia isso… Fui muito feliz com ela”, disse com aparente ar de lamento.

O réu falou contou ainda para o juiz e demais presentes na sala que foi abusado sexualmente quando tinha nove anos por um enfermeiro que cuidou dele. Relembrou também um episódio ocorrido em seu casamento, que durou quase meio século. Ele descobriu que Gisèle estava o traindo com um homem, o que o teria deixado devastado a ponto de planejar um suicídio lançando o automóvel que dirigia em alta velocidade contra uma coluna de árvores na estrada. Teria desistido por “não ter coragem”. Confessou estar arrependido de não ter acabado com a própria vida naquela ocasião: “Talvez eu devesse ter feito isso”.

Parecendo confuso em alguns momentos, ou tentando parecer confuso para os presentes no tribunal, ele afirmou a certa altura que “era louco” pela esposa. Mas se corrigiu: “Eu a amava imensamente… Aliás, ainda a amo”.

Num dos trechos mais estranhos, Dominique disse que “eu a amei bem durante 40 anos e muito durante outros dez”, o que se presume ser uma menção à década em que cometeu os estupros coletivos contra a esposa.

Por fim, o acusado ainda confirmou que gravou tudo não apenas por “sentir prazer”, mas “como garantia, para que hoje, os vídeos pudessem permitir encontrar as pessoas que participaram disto”.

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