2 de dezembro de 2024
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Sarney quer MDB com o Lula em 26

Por Raimundo Borges

O Imparcial – No Brasil nenhum político conhece mais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que o ex-presidente José Sarney. O maranhense filho de Pinheiro é o político com a maior história de poder no Brasil desde o século passado, como governador do Maranhão, três vezes presidente do Congresso Nacional e uma, do Brasil.

O pernambucano de Garanhuns, Lula da Silva foi o deputado constituinte mais votado em São Paulo (1986) e três vezes mandatário do Brasil. Na última sexta-feira, 08/11, José Sarney deu entrevista ao Estadão e defendeu a reeleição de Lula em 2026, com o apoio do MDB, que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes quer levar para uma eventual candidatura de Jair Bolsonaro (PL).

Com 94 anos em plena lucidez e mais de 70 de vida pública, Sarney continua como uma rica fonte de informação e de história no jornalismo desde os 18 anos, na política e na literatura. Ao discordar de Ricardo Nunes sobre os rumos do MDB em 2026 contra Bolsonaro e a favor de Lula, Sarney sabe que não estará sozinho.

O MDB  de Sarney é o maior partido do Brasil, com 2,392 milhões de filiados e 877 prefeituras, seguido pelo PT, com 1,650 milhão de filiados e 832 prefeituras. O maior legado histórico de Sarney na Presidência da República foi a Constituição de 1988 quando Lula era deputado constituinte, e, por coincidência, foi contra a eleição do colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves-Sarney em 1985.

Portanto, Sarney tem a trajetória de político moderado, conciliador e defensor da democracia. Desde 2002, quando Lula foi eleito com 57 anos, depois de perder três vezes, sua relação com Sarney sempre foi amistosa, de admiração e de alianças entre o MDB e o PT. Naquele ano o mundo vivia um contexto totalmente diferente.

A Seleção Brasileira ganhava o penta, com Cafu, Rivaldo e Ronaldo e os aeroportos do mundo inteiro reformularam todo o sistema de segurança por causa dos ataques terroristas às torres do World Trade Center, em 2001. No Brasil, Sarney estava iniciando seu segundo mandato como presidente do Senado. No Maranhão, o PT interveio no diretório estadual para obrigá-lo apoiar Roseana Sarney.

Ao contrário das outras eleições, em 2002, o PT se coligou com partidos mais moderados, como o PL, que indicou o empresário José Alencar na vice; o PMN, PP, PTB e parte do MDB, todos de direita e de centro-direita. Roseana Sarney, depois do Caso Lunus, desistiu de disputar a Presidência, mas renunciou ao governo para o vice José Reinaldo, foi eleita senadora e apoiou Lula.

Logo se conclui que a relação política dos Sarney com Lula vem de muito longe. Desde então, o petista tem adotado políticas que consolidaram  o lulismo. Porém, sem perder de vista os interesses de aliados liberais do PL e progressistas do PT-MDB, fato que desagradou setores das esquerdas.

Hoje, com pressão do mercado e do Congresso, o governo Lula está numa sinuca de bico. Todas as forças da oposição, aliadas ao liberalismo do PL direitista na Câmara e Senado, do agro ao evangelismo, pressionam o governo por cortes drásticos nos gastos das áreas sociais e contra a tributação das grandes fortunas.

Lula está na mesma situação daquele primeiro governo iniciado em 2003, há 21 anos. Teve que adotar o pragmatismo na economia para não atordoar o mercado e o capital. Assim foi impossível, como tem sido agora, implementar medidas que afetassem os privilégios das elites econômicas do Brasil.

Quando Sarney resolve quebrar o silêncio sobre o debate das eleições de 2026, pode ser uma estratégia para esfriar as pressões sobre os cortes de gastos que tomaram três semanas do governo Lula em sucessivas reuniões sem definição. A encrenca é tamanha que envolve o Branco Central e as bancadas do Centrão no Congresso. 

Com três ministros do MDB na Esplanada, Sarney sabe que já pode palpitar dois anos antes das próximas eleições gerais. Se diz amigo pessoal de Lula, de quem um dia foi adversário. Com um dos mais longevos partidos do Brasil, Sarney não quer misturar o MDB com a extrema direita bolsonarista, como deseja Ricardo Nunes. Seria um retrocesso nesses tempos sombrios.

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