A incrível engrenagem da política maranhense
Por Raimundo Borges
O Imparcial – As eleições do Maranhão em 2026, hoje mergulhadas num caldeirão de intrigas, golpes e contragolpes abaixo da linha da cintura, têm tudo a ver com o que ocorreu nos pleitos gerais de 2006 e, principalmente, em 2010 e 2014.
Em 2006 Jackson Lago foi eleito governador, derrotando Roseana Sarney, rompida com o governador José Reinaldo, seu aliado histórico. No primeiro momento, Reinaldo apoiou a candidatura do tucano Edson Vidigal, mas logo em seguida optou por Jackson Lago, que tinha como maior novidade no pleito, Flávio Dino concorrendo a uma cadeira na Câmara, após abandonar a toga de juiz federal.
Aquela eleição marcou a primeira derrota de Roseana Sarney, que venceu no primeiro turno, mas perdeu, com estreita margem de votos, no segundo, para Jackson Lago. Tanto ela quanto o pedetista concorreram com suas candidaturas impugnadas, mas com o registro autorizado pelo TRE-MA, ambos foram estreantes nos rigores da novíssima Lei da Ficha Limpa, que acabara de ser promulgada.
Resultado do imbróglio, foi o recurso de Roseana contra Jackson, por abuso de poder econômico e compra de votos, que o fez perder o governo para a filha de Sarney, com apenas 26 meses à frente do Palácio dos Leões.
Com exceção de Jackson Lago, que morreu em 2011, todos os principais personagens daquele enredo político participam da engrenagem que está açoitando os fatos históricos nos dias de hoje na política maranhense. Flávio Dino perdeu em 2010 para Roseana que, no entanto, viu seu candidato Edinho Lobão sofrer o maior revés de urna de seu grupo, para o próprio Flávio Dino em 2014.
Foi quando o PCdoB dinista se aliou ao PSDB de Carlos Brandão na vice, dando uma de “Lulinha Paz e Amor” em 2002 e 2006, quando venceu com o empresário José Alencar do PL.
Com o fim do sistema sarneísta que durou quase 50 anos, Flávio Dino tornou-se o principal líder da política maranhense, sendo reeleito em 2018 com Carlos Brandão, e tornando-se o senador mais votado em 2022, e Brandão eleito no primeiro turno.
Tudo parecia uma temporada política de longo prazo, sob a batuta de um esquerdista, chamado pelos adversários, de “comunista”. Veio então o 3º governo Lula, que fez de Dino seu ministro da Justiça e Segurança e depois, dono de uma cadeira no STF.
É sabido que “o poder é transitório, efêmero e envolvente, e por assim ser, embriagador”. A história do poder político do Maranhão é riquíssima em episódios de turbulências entre aliados e, principalmente, dos aliados que se tornam inimigos.
Cafeteira era inimigo de José Sarney, até ser indicado para disputar o governo em 1986, numa eleição que virou um “passeio”; Luiz Rocha era queridinho e virou adversário do mesmo grupo; José Reinaldo foi outro sarneísta trombado por essa lógica cruel. Agora é a vez de Carlos Brandão se achar em linha de colisão direta com Flávio Dino.
Dessa forma, os dois que demoliram o sistema sarneísta sem chance de uma retomada, hoje se veem como adversários, mesmo estando Flávio Dino atuando como ministro do STF. Por essa lógica enviesada, as eleições de 2026 estão mergulhadas numa crise de identidade que ninguém sabe no que vai dar.
Brandão tem a caneta do Palácio dos Leões e o Diário Oficial, enquanto Dino usa o poder da toga para impor sua força em ações procedentes do diagrama político maranhense. Especula-se que os dois têm encontrado marcado, mas ninguém sabe se ainda há espaço nas agendas do ministro do STF e do governador que por sete anos foi seu vice. O poder é efêmero, saltitante e enganoso. Acredite.