20 de maio de 2025
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O Imparcial à beira de 100 anos com o mesmo espírito de 1926

Por Raimundo Borges
Diretor de Redação 

O ImparcialConstruir uma catedral necessariamente tem que passar por uma capela ou uma igrejinha, montando pedra sobre pedra, num projeto que se desdobra por décadas ou séculos. É a força da fé elevada às últimas consequências para torná-la moradia eterna da fé em Deus. Para se construir um jornal é algo tão desafiador quanto erguer uma catedral. O Imparcial nasceu de um consagrado espírito de fé e compromissos, transformados num ideal de informar e transformar. Hoje, diante da profusão de tecnologias digitais, O Imparcial resiste a uma competição desigual – como todas as mídias impressas –, mas sustentando a bandeira do jornalismo equilibrado, apurado e focado no respeito ao leitor.

O leitor e o anunciante são os principais personagens desta história de 99 anos. Além da dedicação de uma equipe de jornalistas, administradores, operadores de todos os setores, que protagonizaram e protagonizam, com esforço e inteligência, o enfrentamento de tempestades e solavancos, mas sem perder o rumo. Não sem motivo, os dirigentes de O Imparcial já se preparam para as comemorações do único jornal do Maranhão e do Nordeste a completar, em 2026, 100 anos de circulação ininterrupta. Sem dúvida um feito histórico, com significado de uma aceitação compartilhada e longeva pelos que o têm como referência jornalística.

O jornalista João Pires Ferreira (1879-1957), tornou-se um idealista, desbravador e semeador de ideias tingidas a tinta em páginas de jornais. Ele nasceu em Mirador (MA) e ainda jovem se encantou pela profissão de jornalista político. Em 1911, fundou o “Serip”, primeiro jornal de Floriano, região do médio Parnaíba (PI). O nome curioso era uma inversão do sobrenome Pires. Em 1912, o jornalista, já com o nome abreviado de J. Pires, lançou “O Popular”, na mesma cidade piauiense, com circulação ampliada para o restante do Estado. Em 1917, J. Pires veio residir em São Luís, onde se instalou como empresário de importação.

Pires de Sabóia | Reprodução

Uma vida no jornalismo
Na capital maranhense, J. Pires não perdeu o tino jornalístico. Montou uma gráfica com o irmão José Pires Ferreira, também jornalista (Rua Nina Rodrigues 178) e ampliou o negócio para uma editora de jornal. Os irmãos fundaram o “Diário do Povo” e a revista “Antenas Brasileira”, nome que a neta de J. Pires, Conceição Pires Ferreira Lago, mãe do atual deputado estadual Rodrigo Lago, adotou na revista Atenas, editada em São Luís, com circulação restrita e periodicidade mensal. No apogeu econômico do Maranhão no começo do século XX, a capital foi chamada de Atenas Brasileira, devido à rica tradição literária e cultural, junto com a proliferação de jornais e revistas em São Luís e Caxias.

No dia primeiro de maio de 1926, em homenagem ao Dia do Trabalho, o jornalista J. Pires fundou o jornal O Imparcial, em composição tipográfica, de tipos móveis e símbolos metálicos, impresso numa máquina plana. O sistema tipográfico era totalmente manual, inclusive a prancha que pressionava os tipos arrumados em colunas, contra o papel. Já permitia algumas ilustrações fotográficas e charges, produzidas em clichês em peças de alumínio. Porém, fotografia apenas de paisagens urbanas de São Luís, do interior ou de eventos sociais – fotojornalismo era algo impensável. Estava criado o maior jornal do Maranhão, num estado ainda sem rádio e de comunicação sonora restrita aos alto-falantes, instalados nos pontos mais altos dos bairros.

Adotando uma linha editorial que contrastava com os jornais da época, usados como trincheiras políticas dos donos do poder, O Imparcial adotou o equilíbrio da informação, sintetizado em sua logomarca. Com isso, o jornal ganhou confiança e se consolidou como veículo de credibilidade e circulação estadual, principalmente nas cidades cortadas pela Estrada de Ferro São Luís-Teresina e as ligadas à capital por barcos. Porém, em 1944, com a saúde debilitada, J. Pires acabou vendendo o seu jornal ao empresário Assis Chateaubriand, época da plena expansão de seu império de comunicação de jornais e emissoras de rádio pelo país – os Diários Associados. Pires foi diretor da Caixa Econômica Federal no Maranhão, deputado estadual, chegando a assumir a presidência da Assembleia Constituinte do Maranhão (depois Alema) e, nessa condição, ocupou temporariamente o cargo de governador do Estado.

Pedro Freire foi o diretor que mais tempo passou no comando do grupo no Maranhão

Pires de Saboia no comando
Por sugestão de João Calmon, já integrante dos Diários Associados do Ceará, Chateaubriand indicou para a direção do grupo no Maranhão o jovem José Pires de Saboia Filho, advogado formado em 1943 pela Universidade Federal do Ceará. Ele já tinha experiência no jornalismo, como editor do jornal Correio do Ceará, também dos Diários Associados. Saboia veio para São Luís, dirigir O Imparcial e a Rádio Gurupi, empresas instaladas no sobradão 46, da Rua Afonso Pena, adquirido pelo próprio Chateaubriand, hoje pertencente à Prefeitura de São Luís e que passa por uma reforma do Iphan, que já dura mais de 12 anos.

Saboia foi professor da Universidade Federal do Maranhão, advogado do Banco do Brasil, também deputado federal pela Arena (1966-1970). Depois foi secretário de Justiça no governo de Nunes Freire, de onde saiu para atuar na iniciativa privada e como consultor dos Diários Associados, como um dos condôminos do grupo. Como escritor, foi eleito para a Academia Maranhense de Letras em 1984. Manteve o jornal dentro de sua linha editorial e como líder do mercado de informação impressa no Maranhão durante o longo período de sua gestão.

A revolução do offset
No começo da década de 1970, os Associados do Maranhão (jornal e rádio) foram dirigidos pelo jornalista, historiador e enciclopedista de Brasília, José Adirson Vasconcelos, como Pires de Saboia, também cearense, mas de Santana do Acaraú. Com arrojo e apoio de João Calmon, então presidente dos Associados, Adirson fez a maior revolução da imprensa do Maranhão, mudando toda a estrutura da Redação, contratando talentos e mostrando que era possível reinventar uma empresa jornalística na época em que O Imparcial era o único jornal que possuía uma impressora rotoplana – máquina de impressão intermediária entre a prensa plana e a rotativa, já popular nos jornais de grandes tiragens.

Adirson Vasconcelos

Em 1973, Adirson inaugurou a primeira impressora offset no Maranhão, mudando totalmente a concepção gráfica do jornal. Trata-se da técnica de impressão amplamente utilizada, mas apenas nos jornais, revistas e outros produtos gráficos de comunicação de massa no país e mundo afora. Apesar da evolução tecnológica das impressoras, o sistema offset ainda permanece, apesar de inúmeros aperfeiçoamentos mais recentes, com a introdução do computador na produção textual e a CTP no processo de pré-impressão, que dispensa o fotolito, e as páginas são “gravadas” diretamente na chapa de impressão, através de laser.

Almada Lima e Pedro Freire
Quando saiu para ocupar o mandato de deputado federal e depois a secretaria do governo Nunes Freire, Pires de Saboia passou o comando das empresas ao caxiense Arthur Almada Lima, juiz de direito que a ditadura de 1964 colocou em indisponibilidade. Foi criada a função de diretor-assistente, por impedimento do regime militar de ele ocupar a direção-geral de órgãos de comunicação social. Ao deixar a direção de O Imparcial e Rádio Gurupi, Arthur Almada foi nomeado presidente da Federação das Escolas Superiores do Maranhão (Fesm), quando a transformou em Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

Ao reconquistar na Justiça o direito de retornar à magistratura, Almada Lima foi desembargador do TJMA e vice-presidente do TRE-MA. Como aposentado, ele voltou à terra natal Caxias, para lutar pela fundação do Instituto Histórico e Geográfico daquela cidade, hoje funcionando nas antigas instalações da Rede Ferroviária Federal – Estação de passageiros e prédios de oficinas. Tudo restaurado pelo Iphan, graças à luta de Almada Lima.

Mais tempo na direção
O jornalista Pedro Freire, filho de Timbiras (MA), hoje com 77 anos, foi o responsável pela maior mudança na estrutura organizacional da Empresa Pacotilha, que saiu de LTDA para S/A. Desde o começo da década de 1980 à frente dos Diários Associados, Pedro Freire foi o diretor que mais tempo passou no comando do grupo no Maranhão. Como integrante do Condomínio, ele chegou a ocupar a primeira secretaria, enquanto acompanhava a evolução tecnológica do setor de mídia impressa.

Em 1º de maio de 1996, ao completar 70 anos, O Imparcial foi às ruas com um inédito avanço tecnológico, passando a imprimir suas páginas em tricromia, uma experiência com três cores de tinta, que logo em seguida avançou para o sistema de policromia. A empresa adquiriu o terreno no Renascença II, onde foi construída a sua atual sede, num moderno projeto arquitetônico, dotado de amplos espaços funcionais, inclusive para a instalação da impressora rotativa Goss Community, em cinco módulos verticais, com capacidade para imprimir até 30 mil exemplares do jornal por hora.

Atualmente, a empresa vive uma transição, diante do estado de saúde do presidente Pedro Freire. O jornalista Célio Sérgio, com 35 anos na redação, foi promovido a diretor-executivo, com o compromisso de fazer a trajetória de O Imparcial não se envergar diante dos desafios tecnológicos que vêm mudando o rumo dos negócios de mídia impressa no mundo. O Imparcial não está alheio ao fenômeno das mídias digitais, estando investindo pesado no portal O Imparcial Online e numa emissora de rádio. Sem dúvida, o online é um dos sites de notícias mais acessados do Maranhão, com uma média de 10 milhões de visitações mensais.

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