17 de junho de 2025
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Deputados do mesmo grupo trombam raivosos na Alema

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Quando o jovem José Sarney sepultou, em 1965, o sistema vitorinista, que mandava no Maranhão desde o fim da Segunda Guerra Mundial, 20 anos atrás, no fim da era Vargas, até os dias de hoje, muitas cambalhotas políticas estão registradas na história. A crise atual de quase ruptura do grupo dinista com o chamado brandonismo, em ano pré-eleitoral, é um pouco de várias outras desmanches e reconstruções na política do Maranhão.

O próprio José Sarney, nos primórdios de sua trajetória, do mesmo PSD de Vitorino Freire, rompeu com o cacique e migrou para a UDN (União Democrática Nacional), que, na Ditadura, virou Arena, se tornou a base governista, e o MDB atuando na oposição.

Não tem um político hoje no Maranhão que não admire José Sarney pelo raro talento de sobreviver às tempestades. Quando deixou a Presidência da República, em 1990, ele tentou ser candidato a senador pelo Maranhão, mas o MDB, comandado por Cid Carvalho, botou uma trava, enquanto Sarney buscava alternativa.

O então governador do recém-criado Estado do Amapá, Novaes da Costa, nomeado pelo ex-presidente, abriu-lhe as portas do MDB local para a sua candidatura. Sarney enfrentou todo tipo de pressão na Justiça Eleitoral, sob o argumento de que ele não tinha domicílio eleitoral na capital Macapá por mais de 90 dias, como pedia o Código Eleitoral. Porém, o cartório eleitoral de Macapá declarou que a ação contra o registro da candidatura do maranhense entrou alguns minutos fora do prazo.

Por uma brecha na Constituição de 1988, art. 14, que falava vagamente em “domicílio eleitoral na circunscrição”, Sarney foi candidato e se tornou o senador mais influente do Brasil nos três mandatos amapaenses e dois no Maranhão – um recorde nacional que superou até o de Rui Barbosa, que passou 33 anos como senador.

Quando se vê, neste 2025, a guerra verbal e a troca de insultos entre os deputados da Assembleia Legislativa, percebe-se que outra ruptura está brotando do mesmo tronco sarneísta-dinista. Eles se engalfinham num plenário que, desde o último governo Roseana Sarney, a oposição era apenas uma encenação.

Nas duas últimas sessões da Assembleia Legislativa (terça e quarta-feira), os deputados Carlos Lula, Othelino Neto, Rodrigo Lago e Fernando Braide reforçaram a postura de duros opositores do governo Carlos Brandão, num revezamento sistematizado na tribuna, com igual contra-ataque de Mical Damasceno, Neto Evangelista, Yglésio Moisés e Adelmo Soares.

O pano de fundo desse enfrentamento é a “guerra dos prints”, reproduzidos de diálogos entre o vice-governador Felipe Camarão e um blogueiro, nos quais ele adota um linguajar chulo, nem um pouco apropriado para qualquer um. Camarão nega ser autor das desditas conversações, mas o alvo delas, a deputada Mical Damasceno, apresentou perícia da Polícia Civil do Maranhão, no celular do blogueiro, em que confirma a autenticidade dos tais prints.

Quem acompanha as correntezas por onde escorrem os desdobramentos da política maranhense não se surpreende com essas cambalhotas entre companheiros do mesmo grupo ou do mesmo partido. Em 2010, por exemplo, o então deputado federal Domingos Dutra passou dez dias em greve de fome no plenário da Câmara dos Deputados.

Era protesto contra a intervenção da Executiva Nacional do PT no diretório regional do Maranhão, que determinou o apoio da legenda à candidatura de Roseana Sarney (PMDB) ao governo, contra Jackson Lago e Flávio Dino. Dutra, que teve no protesto a companhia do ativista do PT Manoel da Conceição, apoiava a candidatura de Dino.

Em 2025, ocorrem novas escaramuças dentro do bloco político construído por Flávio Dino em parceria com Carlos Brandão, que hoje trabalha pela candidatura do sobrinho Orleans Brandão, colocando-o à frente do movimento municipalista que faz a ponte com os prefeitos e vereadores do estado.

Nesta sexta-feira, porém, Carlos Brandão viaja em missão oficial à Europa, passando por Paris e Estocolmo, até o dia 8 de junho, e deixa o governo com o vice Felipe Camarão. É uma interinidade protocolar, mas significa que o governador e o vice não romperam as relações políticas e institucionais. Estão levando o barco no balanço da maré.

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