4 de outubro de 2024
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Golpe: ex-comandante da FAB abandonou reunião em que ministro da Defesa reapresentou minuta

Revista Fórum – “Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?”, teria dito Baptista Júnior, que alertara Bolsonaro dias antes de que não houve fraude nas eleições, álibi para o plano golpista.

Em depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos Almeida Baptista Júnior, relatou uma reunião tensa no Ministério da Defesa em que o então ministro da pasta, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, teria apresentado uma minuta golpista “mais abrangente” da que a mostrada por Jair Bolsonaro (PL) aos chefes das Forças Armadas dias antes.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, que teve acesso à íntegra do depoimento, a reunião aconteceu no dia 14 de dezembro de 2022. Estavam presentes além dele e do então ministro da defesa, os comandantes da Marinha, almirante Almir Garnier, e do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, que também falou sobre o encontro em seu depoimento à PF.

Baptista Júnior teria dito aos investigadores que, logo no início da reunião, Nogueira anunciou que “gostaria de apresentar [o documento] aos comandantes para conhecimento e revisão”.

Ao analisar o documento, o chefe da Aeronáutica diz ter reagido prontamente, afirmando que a minuta tinha como objetivo impedir que Lula assumisse a Presidência.

“Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?”, teria dito o brigadeiro, segundo depoimento da PF.

“O depoente [Baptista Júnior] entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito; que, diante disso, o depoente disse ao ministro da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento; que a Força Aérea não admitiria tal hipótese [golpe de Estado]”, diz a transcrição do depoimento, segundo o jornal.

A contestação de Baptista teria gerado um clima tenso. O ex-ministro da Defesa e o almirante Garnier teriam ficado em silêncio. Já Freire Gomes, comandante do Exército, teria se colocado ao lado do colega da Aeronáutica, contra o plano golpista.

Segundo depoimento dos dois comandantes, da FAB e do Exército, o texto “mais abrangente” que o mostrado por Bolsonaro dias antes decretava o estado de defesa e criava a Comissão de Regularidade Eleitoral.

As medidas são as mesmas descritas no documento apreendido pela PF na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que atuaria como uma espécie de consultor jurídico de Bolsonaro na organização criminosa golpista.

Baptista Júnior ainda relatou que, diante do clima tenso, deixou a reunião antes mesmo que ela terminasse.

“O depoente, em seguida, retirou-se da sala; que a minuta estava sobre a mesa do ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira; que o almirante Garnier [então comandante da Marinha] não expressou qualquer reação contrária ao conteúdo da minuta, enquanto o depoente esteve na sala”, diz a transcrição do depoimento.

Em outro trecho de sua oitiva, já revelado, Baptista Júnior diz que alertou Bolsonaro na reunião dias antes que o relatório feito pelos militares não havia apontado fraude nas eleições.

As novas informações revelam que, mesmo diante do alerta sobre a negativa do álibi para o golpe, Bolsonaro seguiu adiante com seu plano de impedir que Lula tomasse posse.

Para os investigadores, essa constatação é crucial para incriminar o ex-presidente e colocá-lo como chefe da facção criminosa que tentou o golpe. 

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