General que barrou golpe revela ataques e perseguição de militares: “Tempos complexos”
DCM – O general Valério Stumpf Trindade, que desempenhou um papel crucial para barrar uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, abriu o jogo após sofrer ataques de militares e civis envolvidos na trama golpista.
Na época, Stumpf era chefe do Estado-Maior do Exército e atuou em alinhamento com o então comandante, general Freire Gomes. “Tudo o que fiz foi com o conhecimento do Alto-Comando do Exército, alinhado com o [então comandante] general Freire Gomes. Existe uma lealdade muito forte no Alto-Comando”, afirmou ao colunista Paulo Cappelli, do Metrópoles.
Stumpf foi alvo de ameaças e campanhas de difamação nas redes sociais, incluindo publicações com fotos suas e de sua família. Sua filha chegou a ouvir que ele era um “traidor da Pátria”. Antes da posse de Lula (PT), os ataques visavam pressioná-lo a aderir ao plano de golpe. Após a transição de poder, o general foi culpado por permitir a normalidade democrática.
Acusações infundadas e defesa da democracia
Entre as acusações que sofreu, Stumpf foi rotulado como “informante” de Alexandre de Moraes. Ele rebateu: “Por ser chefe do Estado-Maior à época, eu tinha contato com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), então presidido pelo ministro [Alexandre de Moraes]. Estávamos discutindo métodos para reforçar a segurança e a transparência das urnas eletrônicas.”
O general reforçou que o contato foi institucional, destacando que distorções propagadas por desinformados alimentaram falsas narrativas contra ele. “A minha interlocução era com a Secretaria-Geral do TSE. Aí algumas pessoas que não sabiam de nada distorceram tudo. Alimentaram a versão de que eu seria ‘informante’, uma espécie de ‘leva e traz’, uma coisa bandida. Isso nunca aconteceu. É uma inverdade e uma agressão à minha pessoa. O contato era institucional”, disse.
No cargo, Stumpf propôs medidas ao TSE para aumentar a segurança das urnas, como o teste de integridade com biometria, posteriormente implementadas por meio da Portaria 921. Ele afirmou que tais iniciativas tinham o objetivo de “preservar a democracia, fortalecendo a credibilidade das urnas eletrônicas.”
Stumpf, ao lado dos generais Tomás Ribeiro Paiva e Richard Nunes, foi um dos mais atacados por não apoiar a ruptura democrática. Termos como “estabilidade institucional” e “impossibilidade de ruptura democrática”, utilizados por ele, foram vazados e distorcidos por grupos radicais.
Os ataques
Em uma conversa via WhatsApp, ocorrida em 15 de novembro de 2022, o coronel Bernardo Romão Corrêa Netto compartilhou imagens de cinco generais que se opuseram ao golpe, incluindo Stumpf, e incentivou a divulgação de suas fotos para desmoralizá-los.
O post dizia: “Dos dezenove generais, estes cinco c@nalh@s não aceitam a proposta do povo. Querem que Lularapio assuma (…). Repasse para ficarem famosos. Todos melancias, verdes por fora, vermelhos por dentro.”
Os ataques foram intensificados dias depois, quando Corrêa Netto sugeriu medidas como exoneração e prisão dos generais. Ele escreveu: “Thomaz, Richard e Stumpf tinham que ser exonerados, presos, sei lá, qualquer merda, antes do GFG [General Freire Gomes] passar o comando EB [Exército Brasileiro].”
A PF apontou que a campanha de difamação contra Stumpf e outros militares fazia parte de um esforço maior para articular o golpe antes mesmo do fim das eleições de 2022. O inquérito resultou no indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.
Atualmente na reserva, Stumpf diz manter a consciência tranquila e se orgulha de sua atuação: “Defendi a democracia em tempos complexos. Tenho orgulho de ter agido de forma leal ao comandante do Exército e ao Exército Brasileiro.